sábado, outubro 21, 2006

UMA «NOVA» ALEMANHA

Oradour-sur-Glane: uma comunidade que aí vivera por mil anos é dizimada numa tarde. E tudo começara uns anos antes, em 1933, quando o Partido Nacional-Socialista chega ao poder numa Alemanha devastada pelo desemprego, pela desmoralização , sobretudo, quando eleitoralmente estava em queda.
Ainda assim, socialistas e comunistas julgavam tratar-se de fenómeno passageiro, condenado pelas circunstâncias imediatas. Mas estas - sobretudo representadas pelo incêndio do Reichtag - irão concorrer para a suspensão dos direitos civis e do Parlamento.
Hábil na condução e na criação de acontecimentos, Hitler anuncia uma Nova Alemanha, que perduraria por mil anos. É na mesma altura em que comunistas, socialistas, deputados e jornalistas começam a ser internados nos primeiros campos de concentração, então geridos pelas Secções de Assalto (SA), a face mais trauliteira das milícias nazis. Os mesmos que dão corpo à política de boicote às lojas de judeus e aos autos-de-fé de livros considerados subversivos. Ora, um século antes, o poeta Heine escrevera que «aonde se queimam livros não tardarão a queimar-se pessoas».
Nessa altura a maioria dos judeus mais abastados ainda julgavam sem futuro essa vertente extremista da propaganda nazi.
Os principais apoiantes do novo regime são os desempregados, os comerciantes arruinados pela Depressão, os agricultores e camponeses, os funcionários públicos cujas poupanças haviam desaparecido por efeito da carestia de vida.
Havia, igualmente, uma camada da população inconformada com os termos em que havia sido firmado o Tratado de Versalhes, que retirara da antiga Alemanha os territórios da Alsácia, da Lorena, do Sarre, da Galícia e a cidade de Danzig.
No Natal de 1933 o regime de Hitler estava fortalecido, embora os SA já fossem um estorvo para os planos futuros do chanceler. Já devia pairar pela sua mente o assassinato de cerca de duas centenas das suas principais figuras naquela que viria a ser conhecida pela Noite das Facas Longas (30 de Junho de 1934). Um episódio, que permitiria confirmar a inexistência de pruridos formais para afastar todos os obstáculos à estratégia delineada pelos títeres do regime.
E, quando, em 2 de Agosto de 1934, o Presidente Hindenburg morre, Hitler extingue essa função política e proclama-se Führer, chefe supremo do povo alemão e do seu exército.
Quando referenda a sua ditadura, Hitler lança uma campanha de propaganda, que lhe garante 90% de votos: Mas, ainda assim, avessos a ela, quatro milhões de alemães não se inibem de votar não.
A situação económica, já estava em franca recuperação, quando eles chegam ao poder, melhora significativamente e os nazis não deixam de aproveitar essa constatação empírica da maioria que os apoia.
A construção da primeira auto-estrada, que ligava Berlim à província, permitirá o rápido avanço dos tanques, quando eles estiverem preparados para a ocupação dos países vizinhos. Mas, enquanto isso não ocorre, fomenta-se a histeria colectiva em comícios encenados com competência, enquanto as actualidades cinematográficas são férteis em imagens de Hitler no seu retiro de Berghof a acarinhar crianças, a brincar com os seus cães e a conviver com Eva Braun e muitos dos dignitários do seu regime.
O rearmamento começa a ganhar um ritmo avassalador: aparecem novos blindados, os primeiros esquadrões da Luftwaffe voam nos céus e a nova marinha sai dos atarefados estaleiros. Embora os seus generais considerem extemporânea a decisão de partir para a guerra, Hitler proclama extinto o Tratado de Versalhes.
A recuperação dos territórios nele perdidos já começara a ocorrer em 1935 quando, sob acompanhamento internacional, a população do Sarre vota o regresso desse território à Alemanha. A Renânia é anexada em 1936 e a Áustria em 1938.
A minoria alemã na Checoslováquia é estimulada para manifestar-se contra uma suposta agressão das autoridades de Praga e possibilita a anexação do território dos Sudetas, sem que os aliados desse pequeno país (Inglaterra, França e URSS) reagissem.
As prepotências sobre a comunidade judaica vão subindo em escalada: em 1938, na sequência do assassinato de um diplomata alemão em Paris a violência torna-se descontrolada na que será conhecida como a «Noite de Cristal», quando se incendeiam sinagogas, se vandalizam lojas e se prendem ou assassinam indiscriminadamente quem se suspeita de não caber na classificação de arianos.
Em Abril de 1939 a Wehrmacht protagoniza a festa do 50º aniversário de Adolf Hitler. O seu alto comando ainda duvida do sucesso de uma agressão à Polónia, mas o Fürher já decidiu: exige a devolução de Danzig e um corredor de acesso através do território desse vizinho.
Uma vez mais, umas até então quase anónimas minorias germânicas reclamam a defesa dos seus interesses e dão o ensejo para a agressão.
No entanto os estrategas alemães conseguem um golpe de surpresa, que abana as certezas dos que se preparam para travar a iminente agressão: voando para Moscovo, o Ministro dos Negócios Estrangeiros do Reich, Ribbentrop, consegue firmar com Estaline e com Molotov um Pacto de Não Agressão.
Já nada pode impedir a Wehrmacht e a Luftwaffe de avançarem: inicia-se a mais devastadora Guerra até então conhecida pela Humanidade.

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