segunda-feira, outubro 16, 2006

THEODOR ADORNO E A ESCOLA DE FRANCFORTE

Nos anos 20, graças ao mecenato de um negociante de cereais, nascia o Instituto de Pesquisas Sociais, que tornaria conhecidos Max Horkheimer e Theodor Adorno como expoentes de uma nova teoria de pensamento crítico, que procurava expurgar o marxismo dos seus dogmas e adequá-lo à realidade de uma sociedade em plena efervescência e mutação. A tal ponto que, quase sem se fazerem anunciar, os nazis chegam ao poder e obrigam ao exílio norte-americano esses ideólogos esquerdistas cujos livros alimentavam os autos-de-fé daqueles.
No outro lado do Atlântico, Adorno mantém um reconhecimento quase filial pelo seu mestre, que muito contribuíra para lhe salvar a pele e lhe garantir a sobrevivência nesse exílio forçado.
Quando, terminada a guerra, Horkheimer e Adorno regressam, estimula-os o projecto de contribuírem para a difusão dos ideais de liberdade e de democracia junto dos seus compatriotas ainda então sujeitos a campanhas de desnazificação.
Em 14 de Novembro de 1951 o Instituto é reinaugurado com pompa e circunstância, ficando dependente da Universidade de Francforte.
Os seus impulsionadores têm, então, uma justificada notoriedade entre os seus concidadãos. Mas logo despontam os críticos, sobretudo os que se desinteressam de qualquer explicação quanto á agudização do anti-semitismo entre os alemães, preferindo seguir em frente como se Auschwitz jamais houvesse existido.
A «Teoria Crítica» criada nessa Escola de Francforte interpreta a realidade a partir das ideias de Hegel e de Karl Marx e procura suscitar o pensamento crítico nos estudantes ao invés do que se passa a leste, aonde impera a tradição escolástica de considerar o Ser quem determina a Consciência.
É uma época muito estimulante para Adorno, que se interessa igualmente pela música experimental, participando ao lado de Boulez, Nonno ou Stockhausen na Universidade de Verão de Darmstadt.
Horkheimer já é, então, uma caricatura do filósofo brilhante do passado: cioso das mordomias das suas funções de reitor universitário, ele esconde na medida do possível os seus textos dos anos 20, que explicitavam a sua condição de comunista e vai ao ponto de contratar para o seu estabelecimento alguns académicos outrora proscritos pelo seu comprometimento com o regime nazi. Mas Adorno, apesar de nunca atravessar a fronteira, que separa o Bem do Mal, nunca se distancia do seu antigo protector. Nem mesmo, quando Habermas, brilhante professor do Instituto, é despedido devido ao seu pensamento demasiado conotado à esquerda.
Em 1959, Adorno chega à direcção do Instituto, sendo dessa época a sua conhecida afirmação: Quando o mundo não é senão desolação, as pessoas não podem senão sentirem-se desoladas. As suas aulas no mais vasto anfiteatro da escola atrai centenas de estudantes, que se acotovelam para conseguir aceder ás suas esclarecidas palavras. Mesmo que elas transmitam uma ideologia desesperada e sem solução, muito próxima do «esquecimento do Ser» de Heidegger, que, no entanto, se situa nos antípodas do seu posicionamento político.
Na contestação à guerra do Vietname através da música pop, Adorno entrevê algo de significativo, mas de paradoxal: surgido como movimento ideológico de cariz anti-capitalista, os seus militantes consomem música pop numa quantidade tal, que faz esfregar as mãos aos capitalistas responsáveis pela distribuição desses sons, em aparência, irreverentes.
Para Adorno a sociedade de consumo comporta fatalmente o individualismo, a atomização do Ser e, como tal. A impossibilidade da Revolução baseada no colectivo.

Ainda assim, ele vê com simpatia os movimentos estudantis em 1968, embora a sua violência intrínseca o levem a distanciar-se racionalmente. Ele entende que a Universidade não deve ser sede de revolta, mas de pensamento.
Regressado ao Instituto, Habermas não tem dúvidas e identifica-se totalmente com esse movimento, que Adorno classifica de «esforço desesperado para modificar a sociedade» sem que tal seja possível. A sua posição ainda mais se torna incómoda quando, vindo dos EUA, o filósofo Herbert Marcuse apoia a causa estudantil, que reflecte as conclusões do seu best seller «O Homem Unidimensional».
Quando a situação se agudiza e os estudantes ocupam o Instituto é Adorno quem pressiona o reitor da Universidade para recorrer à polícia como forma de garantir a evacuação daqueles estabelecimentos.
A traição de Adorno leva os estudantes a desconsiderarem-no, a sentirem-no como um inimigo. Não se estranhará, pois, que uma brigada feminista semeie o caos numa das suas aulas de 1969, despindo o tronco e expondo-lhe os seios como meio de o acusar de sexista.
Mortificado ele não voltará a ser o mesmo e morrerá de ataque cardíaco alguns meses depois.
Mas fica para a posteridade a sua importância na criação de uma escola de pensamento, que não soube desenvolver até ao fim as suas premissas fundadoras: a de descortinar caminhos sustentáveis para o marxismo. O seu pessimismo, pelo contrário, traduz um impasse filosófico, que ele não soube ultrapassar...

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