sábado, maio 03, 2025

A política estava-lhe nos genes

 

Não aprecio o lado coscuvilheiro das biografias assinadas por Joaquim Vieira, nem tão pouco o posicionamento político, que foi o da transição da extrema-esquerda logo após os 25 de abril, para uma direita mais ou menos envergonhada, mas quase sempre antissocialista (vide as cobras e lagartos que evocou contra a “Geringonça”).

No entanto, porque um esforço traduzido em mais de mil páginas a propósito de Mário Soares merece alguma atenção dissociando o que os preconceitos ideológicos lhe possam suscitar, vale a pena nele encontrar um biografado intrinsecamente ligado à política desde muito cedo e nunca olhando para a realidade, e para o seu percurso profissional, de outra forma que não fosse a ditada por tal vocação.

Há também a explicação curiosa para o seu divórcio com o Partido Comunista de que foi militante até ao dealbar da década de 50: não tanto pelo que se ia diabolizando a respeito do estalinismo, mas pela incompatibilidade com a austeridade moral pugnada pelos camaradas, que não empatizavam com o hedonismo de que ele dava sobejas provas.

Que depois tenha apreciado o livro de Arthur Koestler como caução para esse distanciamento até lhe terá dado jeito, embora nunca se tenha furtado a ser o advogado de defesa de muitos presos comunistas, que a ele continuaram a recorrer como o mais indicado para enfrentar os juízes do Tribunal da “Boa” Hora.

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