segunda-feira, janeiro 23, 2023

O gosto dos outros

 

Coincidiu com o início do milénio: depois de já terem proporcionado a Alain Resnais o argumento para um delicioso sucesso (On connait la chanson, 1998), o então casal Jaoui/Bacri abalançou-se à realização de outra história e o resultado foi tão sugestivo, que não estiveram longe do Óscar para o melhor filme estrangeiro.

Paradoxal foi depressa terem esgotado a imaginação e a graça, que tanto o público como a crítica incensaram, não repetindo nível semelhante em tudo quanto vieram a coassinar depois. E, no entanto, O Gosto dos Outros  até começou por apresentar-se como comédia pretensiosa e de bons sentimentos sobre o choque da cultura com o sentimento amoroso.

Bacri é Castella, o típico pato-bravo cheio de dinheiro, mas ignorante de tudo quanto a cultura ocidental adota como cânone. Será por ele que colhemos a principal lição transmitida pelo filme: não há maneiras piores ou melhores de se gostar de algo como sucede quando ele conhece momento de insólita epifania ao assistir a uma representação da Berenice de Racine. De imediato sente despertar avassaladora paixão pela atriz, que protagoniza a peça e não é mais do que a professora de inglês contratada para lhe ministrar os fundamentos da língua imprescindível ao bom sucesso dos futuros negócios.

A paixão motiva-lhe o interesse pela cultura procurando recuperar, tão rapidamente quanto possível, tudo quanto não aprendeu. Esse esforço ganha a importância de um novo sentido para a sua vida.

Há, porém, muito mais a interessar nesta obra coral em que quase todos os personagens secundários estão a contas com as suas próprias contradições amorosas. 

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