sexta-feira, janeiro 06, 2023

Quando o irreversível pesa!

 

O genérico final de um filme iraniano acabado de ver—O Perdão - devolve-me uma das mais belas peças de Schubert: o quarteto de cordas nº 14 que, sobretudo no segundo andamento, atinge o zénite no sentimento plangente no que isso implica de triste e lamuriento, mas igualmente de vibrante. O que faz todo o sentido na história de uma mulher perante o carácter irremediável, que assumiu a sua vida depois de saber inocente o marido, entretanto condenado à morte por um homicídio de que outro se viria a confessar culpado.

No final, quando ela e a filha estão sentadas numa paragem com uma mala, que as levará provavelmente para lado nenhum, resta a ambígua consolação de ter concretizado uma vingança contrária aos seus interesses racionais e ao bem-estar futuro da criança. Porque a razão poderia tê-la levado a ponderar no mal menor perante o bem maior de se conformar com a impossível irreversibilidade.

Sem comentários: