sexta-feira, abril 12, 2019

(DL) «Os Chuans» de Honoré de Balzac


«Les Chouans ou la Bretagne en 1799» foi o primeiro romance que Honoré de Balzac assinou com esse nome e com que, em 1829, iniciou «A Comédia Humana». O reduzido impacto dessa edição, levou-o a revê-la em 1834, dando-lhe mais alguma complexidade psicológica, sobretudo em Marie de Verneuil, inicialmente apresentada como uma simples aventureira. Sete anos depois voltaria a revê-lo para criar elos de ligação com os romances entretanto publicados, fundamentando a consistência do projeto literário, que consubstanciaria toda a sua obra. É que Hulot e Corentin saltarão desta história para outras posteriores.
A história começa com o ataque de insurretos aristocráticos e camponeses ao exército republicano comandado por Hulot. Embora consiga rechaçar os inimigos neles identifica um jovem, Gars, que desempenha papel de relevo na sua liderança.
À noite, quando janta numa estalagem, Hulot reencontra esse jovem, que se apresenta como oficial de marinha e está acompanhado pela mãe. Decide-se a prendê-lo, mas uma mulher misteriosa, a bela Marie de Verneuil, dissuade-o: a mando de Corentin, braço-direito de Fouché, tem por missão seduzir o rebelde e levá-lo a uma armadilha.  Só que estamos num drama romântico e Marie sente-se atraída pelo jovem monárquico, cuja verdadeira identidade era a de marquês de Montauran.
Julgando ajudá-la, Hulot acede a escolta-los até ao castelo onde ele habita, e em que recebe a garantia de ter a salvo os seus soldados. As coisas passam-se, porém, de forma diferente do que espera: estão aí refugiados outros chefes insurretos, que denunciam Marie como espia a soldo dos inimigos e matam quase toda a guarnição de Hulot. Só a custo este e a espia conseguem escapar.
Ela, porém, ficou embeiçada pelo marquês de tal forma que lhe decide dar nova oportunidade: encontra-o num baile e os corações de ambos abrasam-se. Decidem casar tão só ele deponha as armas. Mas, na sombra, Corentin intriga e consegue voltar a virar Marie contra o amante. Despeitada por se julgar apenas iludida pelos falsos sentimentos dele, entrega-o a Hulot, apercebendo-se demasiado tarde do engano em que caíra. Os dois amantes cairão baleados por um soldado republicano.
Tratando-se de obra ainda insipiente, quando Balzac ainda se entregava mais às influências de Walter Scott ou de Shakespeare, e menos nas suas convicções criativas, «Os Chuans» inaugura o realismo, que constituirá a imagem de marca do escritor. É que para credibilizar a história ele aventurara-se a pesquisar no local a história de um visconde, que sabotava o governo, assaltando as diligências postais e fora traído por uma espia. Mas o que fica realçado é o enredo romântico sobre um amor só consumada para além da vida.

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