Gosto bastante de tango, quer quando cantado (Gardel), tocado (Piazzolla) ou dançado. E, nesta última variante bem posso aceitar a escolha de Maria Nieves Rego e Juan Carlos Copes, que protagonizam este filme de German Kral.
Guiados prioritariamente por ela, embora ele não enjeite acompanhar-nos nalgumas fases do trajeto, olhamos para os cinquenta anos por eles partilhados nas salas de baile, nos clubes ou nos teatros onde foram ganhando o reconhecimento de se tratarem de dois dos mais exímios intérpretes dos passos de dança deste género musical. Nesse meio século apaixonaram-se e casaram-se, odiaram-se e separaram-se, voltando-se depois a reunir só no projeto artístico, porque a possibilidade de voltarem a viver a dois nunca mais foi aceite por ele, entretanto rendido a outros amores, e sobretudo á possessiva mulher, que lhe dera duas filhas.
Maria Nieves expõe-se mais, conta detalhadamente esse percurso, que repetiria se o tempo voltasse atrás e tivesse outro meio século para dedicar-se à sua grande paixão. Mudar só quereria descartar-se de Juan. Embora tenhamos dúvidas em acreditá-la, porque noutro momento da longa entrevista reconhece só ser possível viver um grande amor e dedicara-o ao homem que, regularmente dela se fartava e afastava de si. A exemplo da própria dança, que aparenta sujeitar o feminino ao ditame masculino, Maria Nieves sempre se fizera presente, quando Juan a quisera, quer como amante, quer depois como mera parceira artística. O que a levou a odiá-lo, a insultá-lo enquanto atuavam, mesmo parecendo sorrir continuamente para o parceiro. Mas as imagens não enganam: a empatia dos olhares desaparecera, eles optavam por outras direções.
Kral construiu um argumento sólido, com os bailarinos, intérpretes de Maria e Juan em fases diversas da vida, a interessarem-se pelo que deles conseguem saber, conjugando-se harmoniosamente a ficção com a realidade. Ademais, durante quase hora e meia assistimos a excelentes demonstrações da arte de dançar o tango.
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