terça-feira, fevereiro 14, 2023

O que vale a pena e o que podemos prescindir

 

1. Chegámos a uma altura da vida em que o tempo parece tão breve, que cresce a exigência no que nos possa ocupar os dias. Nas leituras, por exemplo, podemos prescindir de propostas, outrora consideradas como de justificado interesse, mas agora incapazes de nos trazerem algo de substancialmente novo. Por exemplo a biografia recém-publicada sobre a vida e obra do Luiz Pacheco - O Firmamento é Negro e não Azul -, cuja capa se destacava numa livraria onde passeámos os olhos a pretexto de identificarmos as novidades. Muito embora possamo-nos surpreender com o percurso de um filho da média burguesia, fadado para uma vida convencional, às tantas decidido a deixar emprego estável e hábitos respeitáveis para dar livre curso à voracidade sexual e ao alcoolismo, que o tornariam num pária para muitos dos amigos por ele, amiúde, cravados.

Nunca nos tendo sentido gratificados com a sua escrita não é agora, decerto, que o iremos resgatar como autor do nosso particular interesse.

2. Outra a consideração por O Avesso da Pele, romance do brasileiro Jefferson Tenório sobre um filho em busca de um pai, que não conhecera devidamente e nos traz a realidade brasileira de uma negritude condenada a ser vivida na permanente defesa contra agressões tantas vezes sofridas nas mais absurdas circunstâncias.

Eis um autor, cuja obra apetece conhecer!

3. Literariamente também o fascínio pela imaginação de José Eduardo Agualusa que, numa das mais recentes edições da Visão, brindou-nos com um conto sobre personagens que se encontram em duas esquinas do tempo e em lugares geograficamente distanciados. Na sua estranheza o invulgar nome de uma delas (ou serão duas completamente diferentes?) credibiliza a hipótese de viagens no tempo e revelações só admissíveis nas mais engenhosas ficções.

4. Um destes dias voltaremos a procurar a exposição das oitenta obras, que Nikias Skapinakis guardou para si e estão disponíveis para as olharmos no Museu do Chiado. À primeira tentativa batemos com o nariz na porta, porque a inauguração se adiara uns dias.

Normalmente rendido à estética do artista iremos confrontar-nos com a sua assumida busca da essência das coisas, mesmo que, dialeticamente, ele pusesse a hipótese de não terem essência nenhuma e resultar inútil essa indagação. Mas não há como experimentá-la... 

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