São muitos os alemães, que apostaram viver os seus anos crepusculares em Alanya, uma cidade balnear turca situada nas margens do Mediterrâneo. Mas o documentário de Kamil Taylan mostra que o paraíso na Terra está longe de ser eterno.
Esse movimento migratório ocorreu, sobretudo, há cerca de vinte anos, quando um fluxo importante de reformados descobriram a possibilidade de, com o valor das suas pensões, usufruírem de condições de vida muito privilegiadas numa terra de clima ameno e de preços baixos. O projeto não podia parecer mais sedutor…
Mas, hoje, estes emigrantes de tipo novo envelheceram e muitos estão doentes. Ora, num país aonde as estruturas de acolhimento à terceira idade são quase inexistentes, muitos deles sentem-se profundamente sós e desintegrados. A situação revela-se tanto mais complicada quanto a maioria jamais se dignou a aprender a língua local nem em interessar-se pela cultura dos vizinhos.
O realizador, ele próprio nascido em Alanya, embora resida atualmente em Francfort, foi à procura desses reformados e encontrou um conjunto de personalidades muito diferentes, embora coincidentes nas inquietações.
No cemitério encontrou a forma derradeira da suprema solidão: covas anónimas desses reformados, que exalaram o último suspiro sem que ninguém - familiares ou amigos - lhes viessem dar a atenção de os identificar na morgue.
Para o evitar Edmund Kusch revelou-se prudente: já viúvo, comprou e mandou colocar uma lápide na cova ao lado da da esposa, já com a designação do seu nome e o da data de nascimento, faltando pois, apenas, acrescentar-lhe a da morte. E, regularmente, ali vai ele encarregar-se da manutenção e limpeza das duas campas…
Mas houve também quem encontrasse forma de ocupar o tempo disponível em atividades voluntárias: Martina, por exemplo, recolhe, trata, esteriliza e mantém num canil particular, os cães abandonados nas ruas da cidade. Evitando-lhes o triste destino conferido a tais animais nos países muçulmanos, aonde é frequente apedrejá-los por serem, segundo o Corão, «impuros».
No caso de um casal, ele ocupa-se em prosseguir a atividade de construtor civil respondendo à moda turca de encomendar garagens para os seus carros, e ela liderando uma organização filantrópica - a Bombola - que recolhe donativos para fazer chegar cadeiras de rodas a crianças deficientes.
Há também as solitárias já maduras, que se tornam vítimas fáceis da versão local dos «Zézés Camarinhas», iludindo-se com a possibilidade de viverem fulminantes paixões, mesmo que tardias.
Mas esta realidade está a mudar drasticamente: o custo de vida deixou de ser apelativo para os novos reformados, que veem os preços locais a rivalizarem com os da sua terra de origem. E as consequências são devastadoras para a indústria imobiliária local: milhares de apartamentos, construídos à pressa para corresponderem a tal procura, sem interessados para os adquirirem.
Alanya vai regressando, assim, à secundariedade provinciana, que era a sua...
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