quarta-feira, março 28, 2007

UM RUMO DETERMINADO

Na «Pública» de ontem há uma crónica da Faiza Hayat, que diz algo de muito pertinente: Não há como os enigmas para atrair a atenção do público. Um cantor medíocre, cujo rosto ninguém conhecia, porque antes ninguém reparava nele, coloca uma mascara e de um momento para o outro todos passam a ouvi-lo.
É lamentável, mas é assim desde que o mundo é mundo. E é daquelas coisas, que dificilmente irão mudar. Ou não existisse a palavra «manipulação» para a caracterizar. Até uma das ferramentas de gestão, o Marketing, não faz outra coisa senão acicatar o interesse dos consumidores em função do enigma ou de algo de semelhante, que relacione com uma determinada marca.
Bem podem existir programas como o excelente «Arrêt sur Images» do Daniel Schneidermann na televisão francesa, que nem por isso se conseguem espectadores mais competentes na dissociação dos conteúdos transmitidos a nível da informação nas suas diversas vias de interpretação.
É por isso que decorre a nível político - território por excelência desse tipo de estratégias condutoras das opiniões colectivas - um claro combate de argumentos quantas vezes falaciosos, mas tendo apenas um único objectivo: a assumpção tão plena quanto possível dos recursos conferidos pelo poder político por diferentes lobbies, que advogam ideias e conceitos amiúde completamente à revelia dos seus verdadeiros objectivos.
Quem não se recorda do quase total alinhamento à esquerda de todas as forças políticas surgidas no pós-25 de Abril?
Quando, por isso mesmo, os comentadores políticos anti-Governo apostam em denegrir as políticas de José Sócrates, acusando-as de se restringirem a mera propaganda, estão a usar exactamente as mesmas estratégias de que se pretendem críticos virtuosos.
Mas, a esse título, tais agentes políticos devem ser confrontados com uma questão fundamental: se em vez de denegrirem as acções governamentais com argumentos alternativos credíveis, não estariam a ser mais honestos e, sobretudo, mais eficazes na função democrática, que dizem representar?
Na realidade, eles parecem repetir a mesma fórmula até à exaustão por escassearem-lhes essas fundamentações, seja porque se assumem claramente como porta-vozes dos tais interesses lobbistas, que lhes pagam para os representar, seja porque exige-se muito menos trabalho na maledicência do que se faz do que em propor alternativas construtivas.
Mas alguns que, cobardemente, se escondem por trás da difamação e do insulto fácil, vão mais longe e tudo fazem para alcançar um verdadeiro assassínio de carácter. Quem esquece os boatos torpes sobre a ambiguidade da escolha sexual do primeiro-ministro, quando se estava em vésperas das últimas eleições legislativas? E quem está interessado em explorar essa vergonhosa campanha sobre o título académico do mesmo governante?
Estas campanhas destinadas a macular a reputação de José Sócrates só têm uma causa muito clara: o seu trabalho está a produzir resultados, como se constatou com a redução do défice para 3,9%, e os que viram os seus interesses equacionados com a viragem política em curso não olham a meios para, insidiosamente, travar os seus efeitos.
A melhor resposta a tais intentos tem sido a que o Governo tem assumido ao longo deste ciclo político: ficar indiferente às críticas não fundamentadas e prosseguir com o rumo determinado que o caracteriza.

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