sábado, abril 22, 2006

VINTE ANOS DEPOIS DE TCHERNOBYL

Daqui a uns dias cumprir-se-á mais um aniversário sobre o desastre de Tchernobyl. Sempre atenta a ARTE transmitiu um documentário interessante de Christoph Boekel que, na primeira pessoa, relacionou o seu próprio drama - a viuvez da sua mulher, a quem um cancro levou antes dos quarenta anos - com o de quantos perderam a vida ou estão muito doentes como consequência da radiação recebida nas semanas subsequentes a esse acidente. Uma atenção particular é por ele dada a Dima, um jovem soldado, de grande vocação artística, a quem as funções de limpeza de uma zona próxima da Central, causou a morte em 2002.
Estão em causa os erros de construção da Central, os erros dos seus operadores e a inexperiência, se não mesmo ignorância, dos responsáveis pelas operações de contingência. O resultado não tardou a manifestar-se: as mortes, em atroz sofrimento, de quantos se sacrificaram para conter as radiações através da construção do sarcófago em betão.
Numa época em que a União Soviética via falidos os seus esforços expansionistas na guerra do Afeganistão, a explosão de Tchernobyl anunciava a implosão próxima do regime fundado por Vladimir Lenine.
No documentário desta alemão, que casara com uma rapariga ucraniana, quando procurara seguir a peugada do pai, que participara na Segunda Guerra nas fileiras do exército nazi, e a contratara como tradutora, importam os rostos das pessoas: o desse pintor, cujos quadros exultavam de cores vivas antes dessa experiência, e dela viera apostado em só ilustrar os terrores da radiação através de cores cinzentas. Os dos amigos, que o tinham conhecido na escola, e dela evocam a singularidade das suas preocupações artísticas. Os dos técnicos de cinema ou do jornalista, que percorreram a zona sinistrada nos dias seguintes à explosão para tentarem compreender o como e o porquê da sua ocorrência. Ou a da mãe desse mesmo Dima, que considera uma vergonha tudo quanto aconteceu na época e nos anos subsequentes, quando os poderes políticos se eximiram de qualquer responsabilidade quanto ao sucedido.
Vinte anos depois a evocação deste acidente ganha particular relevância numa altura de requentados fervores pró-nuclearistas de quem vê em tal forma de energia a oportunidade de ganhar significativas mais-valias sem atender às consequências do que nela possa correr mal…

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