sexta-feira, abril 14, 2006

UM FILME SOBRE A CHINA DE HOJE

Passaram oito anos sobre os meus quase cinquenta dias em Xangai: uma experiência inesquecível pelo que me trouxe de vivido sobre uma realidade tão candente quanto o é a evolução da sociedade chinesa nesta sua transição de um comunismo puro e duro para uma terceira via, que procura melhores soluções do que a lamentável «perestroika» russa.
Independentemente da abordagem mais aprofundada de críticas do «Público» algumas páginas à frente, «O Mundo», de Jia Zhang-Ke reflecte três aspectos singulares dessa evolução:
Existe enquanto evidência mais óbvia a incapacidade de se encontrar a felicidade na realidade pequinense de hoje. Mesmo mergulhadas no sonho virtual representado por este parque de atracções, os que nele trabalham não sentem quaisquer outras aspirações para além das da mais prosaica sobrevivência.
Noutra vertente pode-se encarar o parque como um universo concentracionário, idêntico em qualquer outra latitude por muito que se parta de avião à procura de novas realidades. Não vem a russa Anna revelar a impossibilidade de se encontrar lá fora algo de diferente em relação aos vários tipos de tráfico, que a acabará por enredar?
Finalmente, e numa abordagem mais directamente política, pode-se concluir que se o comunismo não deu felicidade aos seus protagonistas, o capitalismo - com o advento do trabalho escravo - não significa nenhuma melhoria.
O filme de Jia Zhang Ke frustra quem o vê porque só identifica razões de tristeza e de infelicidade, mas não adivinha portas de saída.
Em tempos de atroz pessimismo, ele prossegue na mesma onda...

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