domingo, novembro 19, 2023

Hokusai, a busca infinita do olhar

 

Não sei quantas vistas tive do Monte Fuji, mas decerto não foram as trinta e seis criadas por Katsushika Hokusai, que teve longa vida entre 1760 e 1849, e ficou imortalizado como um dos mais relevantes artistas das estampas. depois sujeitas a entusiasmada apreciação pelos impressionistas do século XIX.

Sei que quase sempre encontrei a sagrada montanha envolta num nevoeiro, que mal deixava descortinar-lhe o perímetro e nem sequer era devido aos humores da meteorologia, porque quase sempre amarelada como costumam ser as neblinas causadas pela poluição. Um smog antipático, só raras vezes ausente, sobretudo quando era fim de semana, altura em que podia comprovar a quase perfeita simetria do foco do meu infinito olhar.

Na sua proveta existência, Hokusai pôde ver o Fuji, ora de perto, ora a maior distância, como terá acontecido quando imortalizou a onda de Kanakawa, por alguns interpretada como decorrente de um tsunami. E ele procurava, de facto, a captação do momento único em que tudo parecesse perfeito. Mesmo com expetáveis consequências para os pescadores prestes a serem engolidos pelo vagalhão.

Surgindo numa altura em que, apesar de fechada ao exterior, a economia japonesa conhecia algum esplendor, podendo a burguesia comercial dar-se ao luxo de comprar as obras dos seus pintores, Hokusai assinaria mais de trinta mil testemunhos do que era a vida dos contemporâneos. Com tal detalhe que cada um deles merece apreciação demorada tão prenhe de informações são sobre uma época, que já confirmava o distanciamento da civilização japonesa em relação a uma qualquer outra com que se possa comparar...

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