quarta-feira, outubro 18, 2023

Andrea Abreu, Pança de Burro, 2020

 

Ao contrário do sucedido com os navegadores portugueses, que demandaram os Açores e a Madeira, os espanhóis depararam com uma população aborígene ao chegaram às Canárias. E não sendo totalmente dizimados pela brutalidade dos conquistadores os sobreviventes desses habitantes primitivos das ilhas subiram às alturas e aí buscaram sustento no trabalho da terra.

Só nas décadas mais recentes, e atraídos pelos empregos nos empreendimentos turísticos costeiros, desceram das montanhas e estabeleceram-se na periferia das cidades. De Tenerife, por exemplo, onde nasceu e cresceu Andrea Abreu, escritora bem sucedida com o seu primeiro, e até agora, único romance, Pança de Burron, que lhe mereceu reconhecimento da Granta como uma das melhores autoras com menos de 35 anos da literatura espanhola.

Abordando essa comunidade marginalizada e mal paga, que vive dos serviços domésticos, ou dos empregos nos restaurantes e na construção civil, onde quase são invisíveis aos turistas a quem servem, Andrea Abreu foca-se na descoberta da sexualidade de duas raparigas  adolescentes ansiosas por libertarem-se dos constrangimentos impostos pelas devotas avós, que lhes vigiam a conformidade com os ditames dos seus valores. E o vulcão funciona como metáfora quando uma delas, mais ousada, parece precipitar-se na irreverência sem freio, e a outra deseja ter coragem para lhe replicar os passos.

O que fazer do desejo sexual, quando a infância fica definitivamente para trás? Entre a inocência e a sensualidade, o romance explora esse tempo de descoberta num verão de 2005, que tudo transforma na vida da narradora e da amiga Isora. 

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