sexta-feira, agosto 18, 2023

Aki Kaurismäki, Ariel, 1988

 

As saudades que ficam do tempo em que descobríamos filmes alternativos nas quatro pequenas salas do Quarteto! Logo em 1975 Pedro Bandeira Freire deu-nos a conhecer um tipo de cinema, que víamos igualmente noutras salas - Apolo 70, Satélite, Universal. Estúdio do Império - mas facilitando-nos  o bom hábito de sair de uma sessão e logo entrar noutra ali ao lado para uma maratona de dois, três, quiçá quatro filmes de seguida.

Ariel, o segundo filme da impropriamente designada trilogia proletária de Aki Kaurismäki, estreou-se naturalmente numa das salas da Rua Martens Ferrão e alertou-nos para um realizador finlandês, que adotava um estilo minimalista em que os acontecimentos mais relevantes ficavam, amiúde, fora de campo. Exemplo dessa elipse é a de uma das cenas iniciais do filme em que o pai do protagonista suicida-se com um tiro na cabeça na casa de banho depois de lhe entregar o único património, que conseguira ao fim de uma vida de trabalho: um Cadillac.

Taisto, que ficara desempregado depois do fecho da mina de carvão da cidade, parte à procura de nova vida, saindo da Lapónia natal em direção ao sul do país, onde rapidamente se vê espoliado das magras economias com que aí contava instalar-se.

Quando reencontra um dos ladrões consegue agarrá-lo e tirar-lhe a faca com que ele tenta defender-se, mas a polícia surge nessa altura e leva-o a julgamento, de que sai condenado a dois anos de prisão. Por essa altura já o Cadillac ficara pelo caminho, mas nele viera impor-se uma antiga polícia de trânsito, Irmeli, de quem se tornara breve amante, e  que o ajuda a escapulir-se do presídio ao enviar-lhe uma serra escondida num bolo de aniversário. Embora perca o companheiro de cela, que o ajudara na fuga, Taisto, Irmeli e o filho desta encontram um happy end à conta do embarque para um porto distante ao som da versão finlandesa do Over the Rainbow.

Por tornar credível o que, à primeira vista, o não deveria ser, Ariel ficou como exemplo de um tipo de obra capaz de nos surpreender, provando que a realidade pode ir além do mais expetável...

O filme completo pode ser visto no site:  https://archive.org/details/1988KaurismakiAriel

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