terça-feira, julho 05, 2022

1944 : il faut bombarder Auschwitz , Tim Dunn, 2019

 

Parece regra incontornável da História: quando algo é por demais conhecido lançam-se hipóteses sobre cenários alternativos. Por isso, e a propósito deste documentário de Tim Dunn, apregoa-se como sendo um dos grandes dilemas morais do século XX o de se entender justificada ou não a passividade dos Aliados perante o conhecimento das atrocidades então em curso em Auschwitz-Birkenau e o adiamento sucessivo da decisão de lhes pôr fim mediante profilático bombardeamento.

Foi a 10 de abril de 1944 que dois jovens eslovacos, Rudolf Vrba e Alfred Wetzler, conseguiram fugir do inferno e alcançar Zilina para contactarem responsáveis pelo Conselho Judeu e darem-lhes conta de quanto tinham presenciado e se preparava. Sujeitos a interrogatórios em separado, para aferir se se contradiziam, assinaram um relatório doravante conhecido como «protocolo de Auschwitz». 

Esse documento foi abundantemente distribuído e discutido pelos Aliados com os políticos a considerarem urgente o bombardeamento do campo se queriam evitar a morte dos 800 mil judeus húngaros, por essa altura a serem transportados para os campos da morte, e os chefes militares a subalternizarem-no a pretexto de se focalizarem no iminente desembarque na Normandia. E, no entanto, estava-se então em acelerada vertigem assassina com um ritmo diário de mais de cinco mil vítimas empurradas para os fornos crematórios.

Alegavam as autoridades militares para o risco de bombardear as camaratas dos próprios prisioneiros dos campos, porque a pontaria dos aviões aliados deixava muito a desejar - assim o demonstrou o bombardeamento da fábrica da IG Farben, adjacente ao campo e onde os alemães fabricavam borracha sintética, que acertou involuntariamente no perímetro do campo aí causando 40 vítimas entre os prisioneiros e 15 nos seus carcereiros.

Seria preciso esperar pelo dia 27 de janeiro de 1945 para que o Exército Vermelho libertasse o campo e confirmasse o que Vrba e Wetzler haviam denunciado: mais de um milhão de deportados tinham sido aí exterminados.

Interessante na mistura de entrevistas e materiais de arquivos, a eles se associando verosímeis reconstituições com atores, o documentário de Tim Dunn serve para reavivar memórias de um crime contra a Humanidade, que muitos querem fazer esquecer.

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