O que terá sido o último minuto da longa vida do nosso Nobel?
Miguel Real que, em coautoria com Filomena Oliveira, já dele nos dera a mais fiável biografia («As 7 Vidas de José Saramago») - nada consonante com a de um conhecido alcoviteiro interessado pelas intrigas típicas da imprensa cor-de-rosa! -, imaginou a tempestade cerebral do escritor, quando visitado, uma última vez, pelas pessoas e personagens ficcionais mais relevantes no seu percurso.
O estilo da ficção é assumido pastiche do escritor para facultar-nos uma súmula da sua biografia e obra. Fica-nos assim o seu lado de infatigável trabalhador, subindo a pulso e sem ninguém atropelar na escada social, que o leva de operário a manga-de-alpaca, de editor a escritor só tardiamente bem sucedido, mas nunca desistindo dos objetivos a que se propôs: os de servir-se do manuseio das palavras para pugnar pelos direitos dos mais injustiçados.
Miguel Real formula a hipótese de levar consigo um único lamento: o de não ter sido ainda mais ativo nessa transformação política, que obviasse à natureza humana mais vocacionada para o mal do que para o bem.
Fica, ainda, uma constatação óbvia: apesar de não se identificar com muitos dos que dele pior disseram que Maomé do toucinho, nunca se lhe ouviu uma critica sórdida como a dada pelo mais notório dos detratores, eivado de inveja por não ter recebido, em seu lugar, o reconhecimento da Academia sueca.
E o mesmo em relação às mulheres com quem viveu, ambas referidas com o respeito de quem mereceu o seu amor com minúscula, que o grafado com maiúscula a Pilar ficou fundamentadamente reservado. Mesmo tendo a despeitada Isabel da Nóbrega alimentado uma campanha de mentiras sobre a génese do seu talento!
Para quem teve, nesse distante 8 de outubro de 1998, uma das grandes alegrias na vida - o chapadão violento que soou nas caras de Cavaco Silva, Santana Lopes e Sousa Lara! - o reencontro com a vida e a obra de Saramago é sempre uma festa...