Ao abordar a «Missa Solemnis» de Beethoven, William Hess caracterizou-a como “uma avalanche lançada por uma partícula de poeira”.
Se tivesse cumprido a sua função litúrgica a Missa teria sido obrigada a conhecer grandes interrupções para a realização dos diversos rituais a ela associados, perdendo-se assim o seu impacto de ouvi-la de seguida.
Beethoven apoderou-se do texto, não como um dogma, mas como forma de questionar a contradição entre a infinidade de Deus e os limites tangíveis do Homem. Nesse sentido terá utilizada esta composição para resolver a crise de fé em que se via mergulhado e afirmar a forma como sentia mais sincera a sua religiosidade.
O quarto andamento da obra, intitulado «Sanctus», começa com o ímpeto do naipe de metais (trompas, trompetes e trombones) como se evocassem as trombetas dos anjos sobre o templo de Jerusalém, segundo o relatado no Livro de Isaías.
No «Benedictus» há um belíssimo solo de violino a ilustrar a presença divina, e o final, onde deveria verificar-se a pausa para a elevação da Hóstia, Beethoven faz evoluir lentamente a orquestra para acordes profundos como se estivéssemos nesse estado primordial da existência, ou seja naquela escuridão absoluta, que precederia o ato da Criação.
O link aqui deixado é para a versão da London Symphony Orchestra, dirigida pelo maestro Colin Davis, nos Proms de 2011. Um ano depois de ali ter tido a experiência vibrante de assistir ao vivo aos «Mestres Cantores de Nuremberga»!
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