Está a decorrer um excelente ciclo de cinema soviético no Nimas, que nos anda a permitir o reencontro com alguns dos grandes filmes de uma cinematografia desaparecida. É que, quer se queira, quer não, o cinema russo pós-perestroika revelou-se distinto do produzido no período compreendido entre a Revolução Bolchevique e a chegada de Gorbatchev à liderança do Partido Comunista.
Mesmo que apreciemos as obras que alguns realizadores andam a assinar desde então, o grande fulgor épico perdeu-se, bem como a mensagem mais ou menos explícita de uma História determinada pelas lutas de classes. Apenas se manteve algo da tão incensada «alma russa» presente nos romances de Dostoievski, Tolstoi ou Tchekov, que abre espaço para a reflexão interior e para os grandes silêncios, e se manteve nas obras dos dois períodos.
Hoje ao fim da tarde a Cinemateca apresenta este filme de 1950 que, para quem não se pode deslocar à sala da Barata Salgueiro, também está disponível na sua integralidade no link abaixo devidamente legendado em inglês. Na riquíssima filmografia soviética corresponde ao género das comédias musicais destinadas a servir de cartaz de propaganda do regime.
A fotografia é excelente como se pode constatar logo nas primeiras cenas com as longas planícies dos grandes kolkhozes, que Staline gostaria de apresentar como o paradigma do que deveria ser a Utopia comunista nos campos. Mas a curiosidade reside na opção da inesgotável sucessão de canções, que ilustram ao mesmo tempo a rivalidade, mas também a inconfessável paixão que a líder de um desses kolkhozes nutre pelo da cooperativa vizinha, sendo correspondida da mesma forma.
Para além do agrado com que se vê, constitui um documento eloquente de como o cinema era entendido como um imprescindível veículo de criação dos valores , que deveriam caracterizar o Homem Novo. Aquele que nunca chegou a emergir para dar razão aos que acreditavam neste ineficaz modelo de criar a sociedade perfeita...
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