Jean Jacques Rousseau abordou frequentemente o tema da felicidade nos seus escritos. Por isso mesmo não admira, que seja bastante citado neste filme de Mia Hansen-Love, que tem uma professora de Filosofia como protagonista.
Nathalie, interpretada por Isabelle Huppert, vive a felicidade tranquila, que lhe é garantida pela estabilidade conjugal: há um quarto de século que vive com Heinz, também ele professor da mesma disciplina.
Os tempos são, porém, de turbulência: alguns dos estudantes de ambos fazem greve às aulas porque a sociedade atual já não lhes garante qualquer perspetiva de felicidade, com o desemprego ou a precariedade em perspetiva. No entanto, Nathalie, que em jovem militara no Partido Comunista, só se interessa por dar as aulas e nelas suscitar nos alunos a apetência por tudo questionarem.
Mas, de repente, essa estabilidade fica posta em causa com a notícia de Heinz, quanto à intenção de ir viver com outra mulher. É a sua ideia de felicidade, que é reequacionada até porque todos à sua volta acabam por denunciar um desvio entre o que aspiravam e o que as circunstâncias lhes permitem: a mãe gostaria de ser por ela cuidada a tempo inteiro e morre desesperadamente triste no lar. A filha dá-lhe um neto, mas chora incompreensivelmente quando está sozinha com ela e o filho no quarto da maternidade. O próprio Fabien, seu aluno preferido, que foi viver para uma comunidade no Vercors, como forma de levar à prática uma forma de Utopia, acaba por se revelar bem mais ensimesmado do que a realização do sonho pressuporia. E Heinz, quase no final, aparenta a vontade de um recomeço, a que ela se mostra desentendida, porque a namorada fora passar as férias de Natal com a família a Espanha deixando-o para trás.
Temos sucessivos personagens a mudarem significativamente os seus percursos de vida na expectativa de se virem a sentir mais felizes e acabam por se sentirem defraudados com o que realmente encontraram.
A própria Nathalie, depois de consumado o divórcio, julga-se feliz na súbita sensação de liberdade (como nunca se sentira no último quarto de século!), mas depressa a solidão acaba por prevalecer. Quando chegamos ao final ela já arranjou novo foco de polarização do seu desejo de felicidade: esse neto, que tenta fazer adormecer com uma cantilena.
Justifica-se assim a longa citação de Rousseau, que transmitira aos alunos numa aula: não existe a felicidade, mas antes a capacidade de acreditar que ela virá a ser possível. O tal futuro por que se espera...
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