Paul Éluard escreveu «L’Amoureuse» em 1917, a pensar em Gala, que anos depois partilharia os seus favores amorosos com Max Ernst, num «ménage à trois» turbulento até se fixar definitivamente nos braços de Salvador Dali em 1929.
O poema integra-se na antologia «Capitale de la douleur», que a Gallimard publicou em 1926 e onde se congregam dois períodos distintos da sua criatividade.
Éluard (ou Eugène Grindel, seu verdadeiro nome), tinha acabado de fazer uma longa viagem por vários países e continentes para melhor se encontrar consigo mesmo e com as contradições sentimentais, criativas e ideológicas em que se sentia mergulhado.
Tinha então 31 anos e estava pronto para participar no movimento surrealista, que então despontava com Breton e Aragon, aderindo nesse mesmo ano ao Partido Comunista.
Mas a antologia já prenunciava essa transição para intenções mais vanguardistas ao comportar inspirações dadaístas como era exemplo a proclamação “Je dis la vérité sans la dire”.
Quanto ao poema, que mais o celebrizaria, pelo menos nos meios da oposição portuguesa - «Liberdade» - ainda faltariam dezasseis anos para ser publicado.
L'amoureuse
Elle est debout sur mes paupières
Elle est debout sur mes paupières
Et ses cheveux sont dans les miens,
Elle a la forme de mes mains,
Elle a la couleur de mes yeux,
Elle s'engloutit dans mon ombre
Comme une pierre sur le ciel.
Elle a toujours les yeux ouverts
Et ne me laisse pas dormir.
Ses rêves en pleine lumière
Font s'évaporer les soleils,
Me font rire, pleurer et rire,
Parler sans avoir rien à dire.
L'amoureuse
Ela está de pé sobre as minhas pálpebras,
Os seus cabelos enlaçados nos meus,
Ela tem a forma das minhas mãos,
Ela tem a cor dos meus olhos,
Ela dissipa-se na minha sombra
Como uma pedra sobre o céu.
Ela tem os olhos sempre abertos
E não me deixa dormir.
Seus sonhos em plena luz do dia
Fazem evaporar os sóis,
Fazem-me rir, chorar e rir,
Falar sem ter nada a dizer.
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