A inteligência reflete-se no funcionamento do cérebro, mas como explicar as diferenças que dela constatamos nos nossos colegas, amigos ou familiares? Terão mais matéria branca, menos astrocitos, neurónios mais rápidos?
As nossas capacidades estão quase inteiramente definidas nos nossos genes. Robert Plomin, geneticista do King’s College, procura como tal acontece. Para ele se os genes dão-nos o potencial, é o meio ambiente a permitir-nos desenvolvê-lo. Por isso as suas pesquisas têm implicado a utilização de testes em gémeos verdadeiros.
Os resultados demonstraram isso mesmo: são quase idênticos nos gémeos verdadeiros e inequivocamente diferentes entre irmãos e irmãs. É a prova em como, não sendo exclusivamente responsáveis pela maior ou menor inteligência, os genes desempenham um papel crucial. Por isso a equipa de Plomin anda a identificar os genes mais ativos nesse papel. Mas revelou-se tarefa bem mais complicada do que imaginava.
Até agora já estão identificados 300 genes com influência na nossa inteligência, mas que apenas correspondem a 1%. Donde se conclui que a inteligência resulta da interação de milhares de genes, que formam uma rede de incrível complexidade.
Dantes conjeturava-se o funcionamento do cérebro em função das suas zonas. Haveria, por exemplo, uma mais dedicada à linguagem. Mas essa ideia revelou-se falsa: o cérebro funciona de uma forma bem mais global. Até porque esses milhares de genes distribuem-se por todo ele.
A compreensão do funcionamento do cérebro vai-se, pois, fazendo passo a passo e desmistificando ideias completamente ridículas, como sucedia com a associação da hereditariedade a uma maior ou menor inteligência. Foi com essa tolice que, em 1924, os EUA estabeleceram quotas para a entrada de emigrantes porque os testes de inteligência revelavam QI’s mais baixos, que iriam assim comprometer o nível médio das capacidades da população americana.
Durante muito tempo acreditou-se que não conseguiríamos escapar às nossas origens, que a hereditariedade definiria o que iriamos ser. Felizmente que a Ciência já erradicou essa tese determinista. Mas os passos em falso continuam a ser possíveis: em 1974, William Shockley, prémio Nobel pela descoberta do transístor, mostrou-se bem menos competente quando decidiu dedicar-se ao estudo da inteligência. Nessa altura defendeu aguerridamente que os negros norte-americanos eram hereditariamente menos inteligentes do que os brancos. Por isso propunha uma solução radical: esterilizar toda a população de cor.
Pela mesma lógica esterilizar-se-ia toda a população com uma qualquer deficiência.
O filósofo Josef Schovanec tem um QI elevado apesar de sofrer de autismo. O que não o impediu de doutorar-se em Ciências Políticas. Aos seis anos não conseguia pronunciar uma palavra, hoje fala fluentemente sete línguas, algumas das quais tidas como particularmente difíceis (hebreu, árabe, persa e azeri).
À partida estaria condenado à marginalização, mas foi o contrário o que sucedeu, mostrando que o homem não pode ser apenas considerado em função exclusiva de uma única escala da inteligência, tanto mais que esta apresenta múltiplas facetas (musical, matemática, etc.).
Sempre houve resistência à tese de existirem diferentes formas de inteligência. Mas pode-se estar muito cotado numa dessas formas e mal classificado noutra. Não é possível a utilização de uma escala única para medir a inteligência.
A criatividade, por exemplo, é um processo diferente do da inteligência, podendo ou não coabitar com ela. Pode-se ser inteligente sem ser criativo e vice-versa...
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