«Agnus Dei» é o quinto e último andamento da «Missa Solemnis» de Beethoven, aquele em que o compositor mais se dissocia do cânone estabelecido para este tipo de composições. Se nos andamentos anteriores estavam em evidência os sentimentos mais íntimos expressos de forma abstrata, aqui ele vai apostar na teatralidade e no secularismo.
Começa com a imploração do «Cordeiro de Deus», e a insistência repetitiva do «Miserere» sussurrado, que desliza depois para o «Dona nobis pacem» («Dai-nos a paz»). Mas não há aqui sombra da rotina cerimonial.
Existe uma declaração final afirmativa de todos os solistas, do coro e da orquestra, mas interrompidos pelos tambores e fanfarras de trompete. Quando tudo parece encaminhar-se para o final apoteótico, a orquestra estaca para uma fuga instrumental novamente sufocada pelos metais e pelas estrondosas percussões
Volta o tom calmo, mas segue-se-lhe a cadência final, quase militarista, a indicar a direção seguida pela humanidade. A influência para esta solução poderá ter sido a «Missa in Tempore Belli» de Haydn, composta, em 1796, quando Napoleão ameaçava Viena. Hospedado no palácio do príncipe Esterhazy, o compositor arriscara a utilização de trombetas e tambores, até então quase sempre excluídos de obras litúrgicas, para o apelo final, e quase desesperado pela paz.
Beethoven concebeu este andamento com tratando-se de uma «oração pela paz interior e exterior», que pretende significar quanto se está impedido da felicidade o que tiver a mente ocupada com as preocupações da guerra. Assim, só mediante a estabilidade social e política será possível alcançar a serenidade bastante para viver a experiência da fé. Em vez de uma meditação espiritual reconfortante, a missa levanta a ambiguidade da impossibilidade dessa busca interior… pelo menos nas circunstâncias políticas de então.
No link aqui proposto, o «Agnus Dei» é interpretado pela orquestra da Staatskapelle de Dresden sob a direção do maestro Christian Thielemann, e contando com Elina Garanca entre os solistas.
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