É estranho pensar que o conceito de zero custou tanto a ser devidamente assimilado pela História humana que só no século XVII, Newton e Leibniz lhe deram forma completa do ponto de vista matemático. É que, apesar de inventado na Índia há 1500 anos, e muito depois pelos Maias, de forma autónoma, a abstração necessária para se tornar algo de quase instintivo na mente humana só aconteceu bastante mais tarde. E negando essa aparência de quase nascer connosco de forma inata, está o facto de uma criança só aos quatro anos ter a maturidade necessária para o começar a entender, e aos seis a conseguir interioriza-lo como óbvio.
Não deixa de ser surpreendente que os antigos Gregos tenham inventado a Geometria sem percecionarem esse conceito, ou que grandes obras dos romanos se houvessem criado dispensando-o.
O artigo que Ana Gerschenfeld publicou ontem no «Público» e que aborda os estudos dos cientistas da universidade de Tübingen com macacos no sentido de compreenderem como o cérebro humano poderá ter conjeturado tal conceito abre uma porta nova no conhecimento da evolução humana ao identificar como se faz a atividade neuronal, que possibilita os cálculos algébricos. E em que o zero seja considerado.
Só a evolução do cérebro humano no sentido de ir avançando mais e mais no conhecimento da matemática pode explicar o tardio aparecimento dessa forma de abstração. Pode-se então conjeturar, sem possibilidade de comparar a morfologia dos cérebros de há milhares de anos com a atual, se terá havido uma interação entre os avanços do conhecimento matemático e o funcionamento do cérebro, que nas suas sucessivas alterações possa ter propiciado o salto para as conceptualizações subsequentes.
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