Apesar de muito insuficientemente publicado em Portugal, J.G. Ballard é dos autores britânicos que leio com maior prazer. Além da imaginação prodigiosa existem nos seus romances ambiências de tensão, que muito devem ao talento para as conseguir criar nos encontros dos protagonistas com sucessivos e imprevisíveis interlocutores.
É isso mesmo que está a suceder com «Noites de Cocaína», quando já avanço na segunda metade das suas trezentas páginas.
O parágrafo inicial dá logo o tom para o que se seguirá:
O narrador chama-se Charles Prentice e acorre à Costa Brava, porque o irmão mais novo, acaba de ser preso, acusado do incêndio da mansão dos Hollinger, onde terão morrido cinco pessoas. E o mais estranho, para o que dele conhece, Frank deu-se como culpado.
Até então sabia-o à frente do Clube Náutico de Estrella do Mar, um desses aldeamentos onde reformados de diversas proveniências costumam consumir os seus últimos anos de vida, ansiando serenidade, mas sobretudo um clima particularmente benévolo.
Há em Charles o reflexo de proteção, que o levara a cuidar do irmão, quando a mãe de ambos se suicidara depois de longas e sucessivas depressões. Desde então nunca mais conseguira viver num lugar que chamasse verdadeiramente seu, compreendendo-se assim a escolha de uma profissão adequada ao seu sentido de errância.
Porque Frank lhe confidenciara só ser entendível a sua culpabilidade, Charles apresta-se a sedentarizar-se durante algumas semanas no apartamento do irmão, disposto a encontrar os fundamentos da sua inocência.
É assim que, depois de se encontrar com o inspetor Cabrera, responsável pela prisão de Frank, e Danvilla, o advogado incumbido da sua defesa, Charles está pronto para ir conhecer o mundo peculiar de Estrella de Mar.
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