Jonathan Franzen é um dos mais interessantes romancistas norte-americanos do nosso tempo. Pessoalmente continuo a preferir-lhe Don DeLillo, mas não sou indiferente aos seus romances torrenciais de centenas de páginas onde cumpre a missão de tornar inteligíveis as situações e os comportamentos que, à partida, não o são.
«Purity», o seu romance mais recente, volta a ser um fresco político e social sobre as vicissitudes da protagonista, que dá nome ao livro, com muitos flashbacks para possibilitar-lhe uma interpretação consistente. Pip nunca conheceu o pai porque, tão só nascida, a mãe levou-a consigo para outro Estado onde tratou de mudar o nome de forma a desencontrar-se de vez com esse efémero cúmplice.
Não esperava decerto que a filha viesse a desenvolver uma enorme obsessão por o descobrir, arriscando-se a deixar-se iludir por falsos progenitores nesse busca sem fim do verdadeiro. A deceção do idealismo é aqui sujeita a uma escalpelização laboriosa.
Pip desentende-se com a mãe, sempre muito severa com as falhas morais alheias, e tem uma enorme dificuldade em conviver socialmente. Na casa que partilha com outros estudantes tem por co-locatários, entre outros, um esquizofrénico com humor ou um atrasado mental comovente, que ela trata quase como se fosse um irmão mais novo.
Nas suas deambulações ela chegará à Bolívia para conhecer e apaixonar-se por um whistleblower muito semelhante a Julian Assange, mas odiando-o com determinação (não era Freud quem dizia detestarmos nos outros o que mais nos desagrada em nós?).
Esse Andreas Wolf nascera na antiga Alemanha de Leste, filho de um ministro comunista, e contava no currículo com o frio assassinio do sogro da namorada. O resto justifica que peguemos no livro e dele façamos uma das nossas leituras obrigatórias para o ano em curso.
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