Na segunda das cinco partes em que Fernando Dacosta dividiu o seu livro sobre as suas memórias de Natália Correia - «O Botequim da Liberdade» - aborda algumas facetas peculiares, que justificavam alguns aborrecimentos sérios a quem cometia o pecado de lhe desagradar.
Avessa aos salamaleques perante os poderes instituídos não se coibia de correr do Botequim com um suposto génio literário, oriundo do Brasil, que aí se preparava para apadrinhar, mas apareceu ufano do convite ao embaixador, que lhes daria a “honra” de os gratificar com a sua presença.
O pobre do poeta azarado não adivinhava que Natália era do género de não permitir, que quem quer que fosse a sujeitasse a um patamar inferior. Pelo contrário, o usufruírem o privilégio da sua presença é que seria motivo para se sentirem agradecidos.
Majestática, também não se importava em assumir posições politicamente incorretas, nomeadamente quando nos restaurantes apareciam criancinhas choronas, que incomodavam os comensais com as suas birras. Ardilosa, olhava-as sedutoramente, fazendo-as crer que teriam ali uma aliada, e logo as fulminava com um olhar suficientemente assustador para provocar a retirada dos papás e dos petizes, escandalizados com a reação destemperada da escritora.
É, também, nesta segunda parte do livro, que Dacosta melhor esclarece a desilusão da escritora com o 25 de abril, que vira como a oportunidade para pensar Portugal, potenciando-lhe os pilares em que se sustentavam a sua identidade, e afinal se entregava nas mãos de uma Europa descaracterizadora.
O pessimismo, que a tomou na última fase da sua vida, resultou da previsibilidade quanto ao que se seguiria: um consumismo desenfreado, um abandono de atividades produtivas estruturantes na nossa economia e uma alienação geral, que tornava quixotesco o esforço dos que teimavam em lutar contra essa forte corrente...
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