Não será a melhor das séries televisivas, que vi este ano, mas «Secret State», cujos quatro episódios passaram recentemente no Sundance Channel, levanta questões muito interessantes sobre a forma como os oligopólios, nomeadamente os da banca, controlam a ação dos governos e desprezam os mais elementares conceitos de Democracia.
Gabriel Byrne interpreta o papel de Tom Dawkins, um político conservador, que ascende a primeiro-ministro na sequência da morte do titular do cargo, Charles Flyte, que fora aos Estados Unidos negociar com a Petrofex uma indemnização para as vítimas da explosão verificada numa refinaria no Norte da Escócia.
Dando razão a Churchill, que afirmava contar com adversários na bancada oposta, porque os verdadeiros inimigos estavam nas suas costas, ou seja na sua própria bancada, Tom depressa se apercebe de tal afirmação constituir mais do que uma boutade engraçada do célebre antecessor. De facto dois dos seus principais ministros conspiram abertamente para o derrubarem e o substituírem.
Na imprensa discute-se quem terá atentado contra o primeiro-ministro, cujo avião desaparecera no voo transatlântico durante uma tempestade. Os militares apressam-se a divulgar a fotografia de um iraniano, que poderia ser um agente a soldo do governo de Teerão e estaria a bordo para cumprir uma missão suicida. E mostram-se muito interessados em emboscar Tom ao levá-lo a autorizar um atentado contra um conhecido terrorista sem lhe dizerem que, ao contrário do que julgava, o jipe em causa estava em território iraniano e não afegão. O drone foi assim entendido como um ato de guerra contra os alucinados ayatollahs.
Há, igualmente, a convergência desses militares com a administração do Royal Bank of Scotland, que boicota ativamente as orientações do primeiro-ministro - apesar de 88% do capital pertencer ao Estado - transferindo milhões de libras para outras paragens. Ademais manobram para desvalorizar a libra e causar tensões sociais no setor dos transportes.
Mas ainda outra força clandestina está comprometida na mesma conspiração: o MI6, que tem escutas nas comunicações do primeiro-ministro. Pode assim agir preventivamente, assassinando-lhe um amigo próximo, que se preparava para lhe dar a verdadeira explicação para o sucedido ao avião de Charles Flyte, e depois prendendo a agente que conseguira chegar à fala com ele para lhe dar a conhecer o que Tony Fossett não conseguira. Uma versão dos acontecimentos, que retirava qualquer justificação para qualquer ataque contra o Irão.
Em desespero de causa, e incapaz de ter sucesso contra tantos opositores, Dawkins lança a única bomba, que lhe resta: pedir a moção de censura contra o seu próprio governo.
Uma jornalista, que ele escolhera como sua principal confidente para as notícias oficiosas sobre o governo, acredita na capacidade dele para mudar um mundo onde os eleitores nada podem contra o poder dos banqueiros e das grandes empresas. Mas aparentemente, num final em aberto, são eles quem parecem sair vencedores de toda esta sucessão de crises políticas.
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