Sei que a forma como o vou dizer não agradará aos defensores do politicamente correto, mas não vi as remakes dos êxitos do cinema salazarista dos anos 30 e 40 - «A Canção de Lisboa», «O Pátio das Cantigas» ou «O Leão da Estrela» - porque o cheiro a oportunismo comercial, que elas exalavam fez-me fugir a sete pés de tais propostas. O cinema fascista não se atualiza, enquadra-se no seu contexto e deve-nos levar a compreender o que levavam os portugueses a incensar esses atores e atrizes na mesma altura em que muitos dos seus compatriotas sofriam nas prisões do regime, quando não mesmo morriam no Tarrafal.
O meu conceito de cinema genuinamente português nada tem a ver com esse, e tem tudo com o de Luís Filipe Rocha, cujo talento não foi devidamente aproveitado num país onde só pode assinar dez filmes. É por isso que «Cinzento e Negro» constitui obra de visão obrigatória. Porque conta uma história consistente, tem atores que a credibilizam e uma paisagem de beleza superlativa (a ilha do Pico).
Não será um filme perfeito, mas tem pessoas apostadas em encontrar caminhos para se sentirem vivas e superarem os impasses em que se veem enleadas.
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