terça-feira, maio 31, 2016

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: «Nove Dias de um Ano» de Mikhail Romm

Compreendo que, em 1962, quando este filme foi rodado, ele tivesse uma missão propagandística compreensível: estando a União Soviética em disputa com os Estados Unidos na corrida aos armamentos, importava dar para o exterior uma imagem humanista do que se passava na célebre cidade científica siberiana onde se preparavam os novos saltos tecnológicos da superpotência comunista. Por isso os cientistas aqui representados são pessoas íntegras, cujo esforço mais não visa do que impedir o imperialismo norte-americano de dominar todo o mundo. Pelo meio revelam-se esforçados, se não mesmo obcecados, com o seu trabalho, mesmo que á custa da felicidade pessoal.
No entanto, mais de meio século entretanto decorrido, ele surge-nos tão datado, que vê-lo suscita interesse histórico, mas à custa de algum tédio. Daí que, dos filmes já vistos no Ciclo do Cinema Soviético, atualmente em curso no Nimas, é o mais fraco.
A história é simples: Dmitri Gusev e Ilya Kulikov são dois amigos, que procuram descobrir o fenómeno termonuclear, mesmo sujeitando-se a exageradas exposições a materiais radioativos.
Sabem bem o que arriscam, porque o professor Sintsov, uma espécie de mestre dos dois, morrera depois de uma dose mortal de radiação, que também incidira parcialmente em Gusev. Por isso os médicos alertam-no para a possibilidade de não sobreviver a uma repetição desse incidente.
Surgem, entretanto, complicações amorosas: Lolya, a namorada de Ilya, está verdadeiramente interessada em Dmitri e acaba por convencê-lo a desposá-la. Mas não se trata de um enlace feliz: em vez de se dar às alegrias românticas, Dmitri passa cada vez mais tempo no laboratório à procura da descoberta científica, que possa reequilibrar a disputa entre a URSS e os EUA.
Se Ilya se distanciara depois de perder a ex-namorada para o amigo, regressa quando este lhe pede, porque carece dos seus conhecimentos teóricos.
A experiência de Gusev acaba por ser bem sucedida, muito embora não diretamente no sentido, que ele pretendera. Mas, nessa altura, já está tão doente, que só pode acompanhar os desenvolvimentos avançados por Ilya com a colaboração de Lolya.
Em desespero de causa decide exigir que lhe façam o transplante à medula óssea, que só fora ensaiado em cães. E o filme conclui-se sem ficarmos a saber se a cirurgia do dia seguinte terá resultado ou não.


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