Confesso que não fiquei entusiasmado com a escolha de Svetlana Alexievich - que desconhecia! - pela Academia Sueca para Prémio Nobel de 2015. Ao contrário de opções, que foram ao encontro das minhas preferências - começando obviamente em Saramago, mas incluindo igualmente Garcia Marquez, Gunter Grass, Modiano, e Le Clézio - suspeitava que o júri estivesse num daqueles anos de preenchimento da quota dos anónimos anticomunistas subitamente promovidos a injusta notoriedade, de que Herta Müller foi o exemplo mais recente.
Afinal tenho acompanhado o que a autora bielorrussa diz e escreve e tem sido uma descoberta assaz interessante, não tanto pela qualidade literária em si, mas pela conceitualidade da sua obra - dar a voz aos protagonistas de situações-limite, como sucedeu com quem viveu na pele o acidente de Chernobyl, de forma a permitir uma interpretação humanista de momentos charneira na história recente - mas também quanto às suas opiniões.
Numa entrevista recente a Paulo Moura (no «Público») durante uma feira do livro na Colômbia, ela rejeita que a ideia de comunismo esteja definitivamente ultrapassada e essa é também a minha perspetiva: enquanto socialista rejeito todas as apressadas implementações de tal Utopia por não terem correspondido a sociedades, que o próprio Marx reconheceria não estarem suficientemente desenvolvidas para a levarem por diante. Os goulags soviéticos ou, ainda pior, os campos de morte dos khmers vermelhos acabaram por representar a trágica caricatura de um ideal por natureza admirável. Por isso mesmo Svetlana Alexievich chega a perspetivar a probabilidade de serem os países nórdicos a estarem em melhores condições para darem o salto qualitativo para tal ideia, a tal ponto criaram riqueza e sustentabilidade bastantes para avançarem para modelos de redistribuição de rendimentos mais avançados.
E também concordo em absoluto com ela, quando condena os discursos maniqueístas sobre o estalinismo, quando qualquer historiador sabe que todo o passado tem de ser visto no seu contexto da época e não pela lente de um presente com valores e conceitos já transformados em função do que, entretanto, se soube. Daí a injustiça de se querer diabolizar o génio de um Aragon ou de um Neruda acusando-os injustamente de estalinismo.
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