Nos finais dos anos 60 e inícios dos anos 70 a minha entrada em força na cinefilia aconteceu graças a umas sessões às seis e meia da tarde no antigo cinema Monumental e em que eram vistos dois filmes de seguida. Foi assim, que lá conheci os primeiros Bergman, Bunuel, Bresson, Godard e até um filme, então muito amado na minha pueril inocência de adolescente, «Esplendor na Relva», e depois odiado com o mesmo vigor tão-só soube da conduta ignóbil do realizador (Elia Kazan), ao prestar-se ao papel de bufo do macarthismo.
Acredito que, muito provavelmente, a memória desses momentos áureos de descoberta da Sétima Arte tenha estado presente na decisão dos responsáveis da Cinemateca em dedicarem os sábados à tarde à projeção sucessiva de dois filmes de indiscutível interesse, o que acontece há quase dois anos. Nesse sentido, hoje teremos a oportunidade de ver «The Killers», que Richard Siodmak realizou em 1946, e «Charley Varrick» de Do n Siegel, datado de 1973.
O primeiro é baseado num conto de Hemingway e conta com dois atores, que ganhariam aqui a justa notoriedade para virem a ser imprescindíveis a Hollywood nos anos seguintes: Burt Lancaster e Ava Gardner. No início o protagonista morre possibilitando a imediata evocação em flash back do que o conduzira a tão trágico desenlace. Como se trata de um exemplo paradigmático do que era, por esses anos, o filme negro, a personagem feminina corresponde ao tipo de mulher fatal pela qual aconteciam todas as desgraças. Mas o género assentava, sobretudo, na criação de um ambiente característico de sombras e progressivo dramatismo, para o qual contribuía a banda sonora assinada por Miklos Rozsa.
Quanto ao filme de Siegel a história também corresponde a uma versão tantas vezes utilizada pelos cinema norte-americano: dois pobres diabos assaltam um banco sem imaginarem que o dinheiro em causa pertenciam á Mafia, que lhes lança no encalço um assassino brutal.
A outra alternativa propiciada pela instituição da Rua Barata Salgueiro, mas já à noite, é o longo documentário de Martin Scorcese sobre Bob Dylan: «No Direction Home». Porque a atenção do realizador fica focalizada na primeira parte do percurso artístico do autor de “The Times they are a changin!” o interesse justifica-se. Porque, depois do trágico acidente de mota, que quase o matou, Bob Dylan nunca mais foi o mesmo, renegando frequentemente o que antes lhe parecera importante.
Sem comentários:
Enviar um comentário