No ano passado os realizadores Heike Nelsen-Minkenberg et Thomas Müller assinaram um documentário, que pretendia demonstrar o papel ativo da antiga polícia política da Alemanha de Leste no tráfico de obras de arte como forma de conseguirem divisas estrangeiras. E para tal decidiram investigar aprofundadamente as circunstâncias em que foram roubadas duas pinturas de um tríptico de Lucas Cranach, o Antigo, numa igreja em Kliken, uma aldeia muito perto de Wittenberg, onde se situava o atelier do mestre. Esse furto aconteceu em 1990 e as pinturas apareceram por duas vezes à venda em lojas de antiguidade alemãs já no século XXI até reencontrarem o seu lugar original no altar da igreja em causa.
Para a historiadora Natalie Akbari a versão, que melhor lhe conviria, seria a da Stasi a promover o roubo de obras de arte por toda a RDA para satisfazer as encomendas de colecionadores ocidentais. Mas o criminólogo Michael Baurmann é mais cauteloso na formulação da sua hipótese e acredita num mero caro de delinquência perpetrado por amadores da região.
Enquanto um e outro seguem as respetivas pistas ficamos a saber que Cranach era um homem rico que, no auge da produção da sua oficina, contava com quinze assistentes. Deve-se a ele a primeira representação de nus em temas profanos na pintura e o aspeto que teria Lutero, a quem retratou, não só como vizinho, mas sobretudo, familiar muito próximo.
Depois de explorar a vertente anticomunista, que estaria na génese da produção do filme - a Stasi faria chantagem sobre colecionadores para deles conseguir as obras, que venderia para o Ocidente! - o documentário tem de dar razão à tese de Baurmann. Mas as surpresas não tardam a vir de outra direção: ao analisarem as obras roubadas para constatar se eram as verdadeiras, os especialistas descobriram que não eram da autoria do Mestre, mas de um dos seus mais talentosos assistentes...
E é aí que o filme mais interesse suscita ao dar-nos a conhecer as metodologias utilizadas para distinguir um quadro verdadeiro de um fraudulento!
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