segunda-feira, abril 09, 2018

(I) Vamos renunciar à nossa Liberdade?


Vivemos na turbulência de um tempo feito de atentados, de fundamentalismos, de ascensão das extremas-direitas e do populismo. Para o compreendermos precisamos de quem, numa perspetiva de esquerda, nos ajude a encontrar uma saída estratégica para romper com esses condicionalismos, que nos tendem a enclausurar numa deprimida apreciação da realidade.
Carlo Strenger, filósofo e ensaísta  da esquerda realista, interpela-nos com esta proposta: e se, em vez de nos conformarmos com o medo e o derrotismo, reivindicarmos ruidosamente os nossos valores fundamentais a começar pelo da Liberdade?
Inspirando-se, ora nos grandes pensadores do século XVII, ora nos romances contemporâneos de Michel Houellebecq, ora nos filmes de Scorcese, ora na psicanálise, ele faz uma leitura geopolítica e existencial dos grandes problemas da época atual. Lembra-nos que a Liberdade não é um direito fundamental, mas uma conquista cultural do Ocidente de preservação obrigatória. Por isso, virando costas ao consumismo, que nos torna apáticos ou passivos, ele enfatiza a importância de recuperar o sentido de cidadania e a coragem de promover um pensamento crítico e aberto a todos os debates. Trata-se de adotar uma nova forma de militância esclarecida.
Strenger aponta o Liberalismo como o inimigo principal da Liberdade. Porque é ele o promotor dessa mentalidade consumista, que tende a olhar para esse valor fundamental, como um bem adquirido em vez de ser olhado como uma conquista laboriosamente defendida com a pertinência de o saber sempre perigado. Encadeados pela ilusão de um direito à felicidade, que deveria ser garantido pela sociedade no seu todo e não pelo esforço individual, perde-se o foco do que deveria ser o sentido da existência: a criação de uma sociedade mais justa e igualitária, capaz de olhar para as listas da Forbes com a censura de nela identificar o quanto se está distante do objetivo em vez de as considerar como ´decorrentes da afirmação de uma falsa meritocracia.
Tanto Rousseau como Freud são chamados ao pelourinho, tidos como responsáveis dos malefícios dos discursos apostados na superioridade do indivíduo sobre a sociedade em que vive. Strenger deplora os efeitos da modernidade, do liberalismo, da tirania do politicamente correto - todos culpados da sujeição dos indivíduos a esse sacrossanto consumismo, que explica o declínio generalizado em que as sociedades ocidentais andam a mergulhar.

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