sábado, abril 28, 2018

HOJE NO INDIE: Para melhor conhecer Lucrecia Martel, Jacques Rozier e Claude Lanzmann


Entre os realizadores em evidência na edição do Indie deste ano avulta a argentina Lucrecia Martel, de quem se exibe o mais recente filme, «Zama». Personalidade fundamental do cinema contemporâneo ela tem-nos dado retratos corrosivos da família tradicional, eivada de preconceitos católicos e temerosa da sua iminente desestruturação, invariavelmente catalisada em álcool e violência.
Conhecida pelos planos longos, pelo recurso a hiatos para os quais não dá reconfortantes explicações e por silêncios, mais eficientes do que quaisquer diálogos, ela confronta as disfuncionalidades do tempo presente, tenham elas ver com as desigualdades e os preconceitos, se não mesmo com o racismo mais primário.
O filme desta noite foi rodado após uma paragem de dez anos e tem o português Rui Poças como diretor de fotografia. Baseado num romance escrito por Antonio Di Benedetto em 1956, evoca a viagem delirante de um oficial espanhol, Don Diego de Zama, pelos confins latino-americanos no que ela revela sobre as bases fundadoras do colonialismo ali imposto.
Outro realizador que o Festival aposta em melhor dar a conhecer está Jacques Rozier, cineasta independente, admirado por Jean Luc Godard, e de quem «Adeus Filipinas» foi uma das obras emblemáticas da nouvelle vague. Porque os produtores raramente lhe financiaram os projetos para cinema, tem trabalhado mais regularmente em produções para televisão, mormente para o canal ARTE.
O filme que esta noite a Cinemateca dele passa constituiu a sua segunda-metragem e, apesar de rodada em 1971, só ficou acessível ao público em 1996. Chama-se «Du côté d’Orouet» e recorre a um dos espaços preferidos por Rozier para desfilar perante a sua câmara: as praias onde rapazes e raparigas fazem a educação sentimental em tempo estival.
Do dia de hoje avulta ainda mais um longo projeto de Claude Lanzmann, laborioso denunciador dos crimes do Holocausto, que com «As Quatro Irmãs» fez entrevistas demoradas a Paula Biren, Ruth Elias, Ada Lichtman e Hanna Marton, sobreviventes do intenso sofrimento e o recordam tantos anos depois, cientes da importância de estarem assim a contribuir para a memória futura.

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