domingo, abril 22, 2018

(DIM) Freud revisto por Gabriel Abrantes


Prossegue o já anteriormente declarado entusiasmo com as curtas metragens assinadas por Gabriel Abrantes, tendo hoje descoberto «Freud und Friends», filme de 2015, que concorreu ao Festival de Berlim do ano seguinte.
Correspondendo aos valores da geração «millennial», de que me sinto, hélas!, tão distante, os filmes até agora apreciados têm uma imaginação delirante, uma bagagem cultural eclética e um talento para tudo condensar numa narrativa divertida, que torna a sua visão num inequívoco prazer.
Neste filme em concreto, deparamos com uma reportagem de Erner Werzog (as referências cinéfilas serão múltiplas de fio a pavio, com destaque para o «anúncio» do novo título de um sósia de Woody Allen!) em que está em causa o fascínio do narrador pela possibilidade neurológica de investigar a mente alheia, algo que desde a infância lhe teria sido suscitado pelo desejo edipiano de penetrar nos sonhos maternos.
Temos o próprio Abrantes a fazer de um nerd  ao estilo Jerry Lewis a sujeitar-se à experiência da noiva, uma cientista do Centro Champalimaud para o Desconhecido, que terá conseguido uma poção extraída de um tamboril. Ao descobrir os sonhos devassos daquele que anda tão renitente em com ela casar, Matilde fica possessa: como é possível que a sua própria irmã alimentasse os devaneios eróticos do seu mais-que-tudo? Como aceitar que um peido seu se convertesse numa emanação gasosa da sua sogra (papel igualmente representado por Abrantes!)?
Pelo meio surge a publicidade ao óleo de pastel de Belém ou aos atrativos de uma Lisboa submetida aos ditames da troika.
Claro que a estória acaba mal para o protagonista, mas também quem se arrisca a desvendar os seus inconfessados anseios a quem quer que seja?  Tendo por fundo um registo de comédia acaba por se abordar a muito séria questão do direito de cada um ao usufruto da sua privacidade.

Sem comentários: