quarta-feira, abril 11, 2018

(DIM) CINECLUBE GANDAIA - «Por Favor Não me Mordam o Pescoço» de Roman Polanski (I)


Esta semana aborda-se no Cineclube Gandaia o divertido «Por Favor Não me Mordam o Pescoço», que Roman Polanski rodou em Inglaterra em 1967 numa homenagem evidente aos filmes rodados nos estúdios da Hammer que tanto sucesso tiveram nas palpitantes sessões da meia-noite de alguns cinemas da capital, durante os anos setenta. Como esquecer esses filmes de baixo orçamento com Christopher Lee, Vincent Price ou Peter Cushing, que tinham Drácula como frequente personagem principal ou, em alternativa, os romances e novelas de Edgar Allan Poe?
Realizador dado a uma mal disfarçada bipolaridade, Polanski estava na fase solar quando rodou este filme de abonada produção, logo alternada pela faceta mais sombria, que o levaria a assinar «A Semente do Diabo», que já visitámos na semana transata. O filme vale, igualmente, por ser o melhor testemunho do talento de Sharon Tate, com quem o realizador casaria no final da rodagem e de quem enviuvaria dois anos depois no terrível crime cometido pela seita de Charles Mason.
A estória pode sintetizar-se em poucas palavras: o professor Abronsius e o seu discípulo Alfred (interpretado pelo próprio Polanski) deslocam-se à Transilvânia onde acreditam ver coroada de sucesso a sua caça aos vampiros. Instalados numa lúgubre estalagem é nela que o jovem visitante se apaixona por Sarah, filha do anfitrião, logo raptada na noite seguinte pelo Conde Von Krolock. O objetivo dos dois viajantes passará a ser o de resgatarem a rapariga do triste fim, que o raptor lhe destina. Daí que entrem no castelo do aristocrata e aí deparem com outros vampiros algo peculiares como o são o homossexual Herbert ou o judeu Yoineh Shagal. Este último mostra-se assaz letal, porque contra ele não resulta a ostentação da cruz, que tanto intimida a generalidade dos monstros congéneres.
Polanski confessaria depois ter-se imensamente divertido durante as filmagens, porque Alfred era quase o seu alter ego: jovem indefeso com algo de kafkiano. E se não conseguiu a colaboração da atriz, que sonhava ter para o papel de Sarah - a quase esquecida Jill St. John - acabou por aceitar a imposição de Sharon Tate, apesar de se ter amiúde exasperado com a sua inexperiência, levando-o a fazer setenta takes da mesma cena até se considerar satisfeito.
O resultado final cumpriu os objetivos do realizador, porquanto concretizara um verdadeiro filme de vampiros, mas distanciando-se o suficiente do género para o enriquecer com conteúdos hilariantes sem lhe pôr em causa os principais requisitos identitários. Por isso mesmo Michel Delahaye, crítico dos Cahiers du Cinema apontaria «Por Favor Não Me Mordam o Pescoço como, simultaneamente, um grande filme fantástico, um grande filme de aventuras e uma belíssima comédia.

Sem comentários: