segunda-feira, abril 16, 2018

(DIM) O desaparecimento de Forman e de um dos Tavianis. Uma curta sobre utopias.


1. Por estes dias, ao falar-se de cinema, apontamos para as necrologias: no mesmo fim-de-semana desapareceram dois octogenários bem conhecidos dos cinéfilos, Milos Forman e Vittorio Taviani. E entre um e outro, preferi sempre o segundo, já que o checo só será lembrado pelos filmes com que, ainda no país natal, quis pôr em causa o regime dito comunista, assinando duas obras memoráveis, quando escolheu a via do exílio: «Voando Sobre um Ninho de Cucos» e «Valmont». Pelo meio cruzara-se com Mozart num filme, que valia sobretudo pelos dois atores principais e, posteriormente, só o melhor papel de Jim Carrey no cinema («O Homem na Lua») merece ser lembrado. Dos outros, mesmo do tão celebrado «Ragtime», quem dele verdadeiramente se lembra?
Já com os Taviani trata-se de outra coisa, já não do cinema como espetáculo passível de garantir boas receitas, mesmo com alibis culturais, mas de obras de arte. Algum dos títulos do checo poderá equivaler-se à história comovente do jovem que, contraria os ditames paternos, e decide ser bem mais do que pastor, como sucede em «Padre Padrone»? Ou que dizer de «São Miguel Tinha um Galo» ou «Que Viva a Revolução», que confrontava a Itália com as utopias anarquistas e o cansaço de nelas se perder? Ou, mais recentemente, o maravilhoso «César Deve Morrer» em que, ao tomarem conta da representação de uma peça de Shakespeare, os prisioneiros de um cárcere italiano, conseguem entender como se mantém constantes as leituras da realidade seja na Roma Imperial, na Inglaterra isabelina em que o autor da peça vivera, ou nos dias de hoje.
Se Milos Forman muito lucrou com os atores com que teve a sorte de trabalhar, os Taviani deram excelentes desempenhos a Omero Antonuti, a Gian Maria Volonté, a Giulio Brogi ou a Marcello Mastroianni.
Podemos, pois, concluir que, perante estas duas necrologias, podemos lamentar o desaparecimento de um bom artesão, mas sobretudo de um grande artista, com A grande, da sétima das artes canónicas.
2. Marcelo Félix é o realizador da curta-metragem «Flor e Eclipse», que, em 2013, surpreendeu pelo radicalismo da sua assumida inserção da literatura na linguagem cinematográfica.
As palavras, que se intercalam entre as imagens de paisagens naturais, contam um episódio de guerra, com um duelo entre uma mulher e um homem, inimigos de polos opostos, mas que, caídos de uma falésia, acabam por se entreajudar. Ela cuida dele graças às plantas por ali encontradas e que lhe servem para preparar infusões. Quando os camaradas cirandam por ali, e quase os encontram, ela trata de deles se esconderem. O amor acaba por ser mais forte do que as convicções iniciais. Por isso, grávida, planeia atravessar todo o cenário de guerra com o companheiro, procurando alhures, um sítio onde possam criar uma nova realidade.

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