terça-feira, abril 10, 2018

(DL) A legitimidade da responsabilidade individual em «O Sangue dos Outros»


Das prateleiras recuadas da biblioteca pessoal vou resgatando livros comprados há muito e de leitura adiada para este merecido usufruto da reforma. Calhou agora a vez a «O Sangue dos Outros» de Simone de Beauvoir, livro sobre o sentido de responsabilidade pessoal, escrito pela autora em 1945, quando a França estava a livrar-se da Ocupação nazi.
Embora ainda não tenha chegado à parte em que os alemães chegam a Paris, já dá para antecipar a morte de Hélène e o que esse facto irá suscitar o sentimento de culpa em Jean, o marido que a arrastara para as atividades clandestinas na Resistência. Mas os dilemas anteriores tinham sido muitos, a começar pelo momento em que, ainda nos primeiros alvores da juventude, ele saíra da casa familiar em rutura com o pai, cuja complacência para com o seu alinhamento comunista era nenhum. Depois decidira sair do partido, privilegiando a militância sindical, por ser a única em que via os operários a serem tratados com respeito pela sua vontade e não como peões coagidos a intervirem de uma, ou de outra maneira, em função dos ditames dos líderes. Posteriormente vira-se intimamente obrigado a optar entre as duas mulheres, que o amam: Madeleine, que partilha o corpo com outros homens e Hélène, que ambicionaria tê-lo só para si, sem o ter de disponibilizar para as suas atividades políticas.
Não se tratando de um romance de leitura fácil, nele vão-se sucedendo reflexões sobre a legitimidade de associar as nossas decisões a consequências, ás vezes trágicas, nos destinos dos que para elas não haviam sido tidos nem achados.

Sem comentários: