sábado, abril 28, 2018

HOJE NO INDIE: Entre os valores dos anos 60 e o fazer cinema nos dias de hoje com visitas ao passado pelo meio


Nos anos 60 Tonino De Bernardi iniciou um percurso de realizador motivado pela inspiração vanguardista dos realizadores nova-iorquinos de então. A opção por atores não profissionais encurtava os custos e transmitia a sensação de inocência, que se interligava com as ânsias pelas utopias capazes de transformarem os impossíveis em realidades.  Dele pode apreciar-se, esta tarde na Cinemateca, «Elettra», de 1987, em que isso mesmo se comprova na adaptação da tragédia de Sófocles.
À noite Teresa Villaverde apresenta « O Termómetro de Galileu», que já estreara no Festival de Roterdão e em que, reduzindo a equipa técnica a si mesma, captara em filme a estadia em casa da família desse mesmo Tonino De Bernardi, testemunhando através das conversas do quotidiano a admiração e respeito que ele lhe suscita e o quanto se sente recetora do testemunho das suas preocupações estéticas e políticas.
Em Itália também se situa «Il Risoluto» de Giovanni Donfrancesco, todo focado em Piero, um reformado, que passa os dias a jardinar, a ver televisão, a ler e a cantar no coro da Igreja, mas com um passado sombrio, porque relacionado com uma das mais violentas milícias de Mussolini.  Tantos anos depois é um manancial de vivências ainda por resolver...
Bem mais divertido será «Bostofrio où le ciel rejoint la terre» de Paulo Carneiro, que foi ao encontro dos habitantes de uma aldeia transmontana, muitos deles seus familiares, para lhes indagar o que pudessem recordar do avô. Para além da revelação de um mundo rural em vias de extinção, conclui-se ser microcosmos povoado de segredos e de meias verdades...
Estes dois filmes passam na Cuulturgest.
Para quem ficou com a imagem de Jean Pierre Léaud no sublime, mas claustrofóbico filme de Albert Serra em que interpretava o papel de Luís XIV, ela pode ser substituída de forma bem mais luminosa no filme que o Ideal Paraíso hoje apresenta:  «Le Lion est mort ce soir» de Nobuhiro Suwa, em que, enquanto aguarda o reinício de uma filmagem interrompida, o ator ajuda um grupo de miúdos a concretizar o projeto caseiro de um filme de terror. Onde o filme de Serra era feito de cores escuras e espaços fechados, este responde-lhe com a rua e cores vivas.
De outro japonês, Toshio Matsumoto,  e também na mesma sala, passa «Funeral Parade of Roses», realizado em 1969, que Stanley Kubrick terá reconhecido ser uma das suas inspirações para rodar «Laranja Mecânica». Misto de documentário, ficção e animação, mergulha a fundo no mundo das drag queens de Tóquio dos anos sessenta numa mistura imoderada de sexo, drogas e álcool. 


Sem comentários: