segunda-feira, abril 30, 2018

(DL) Um romance que nunca me conseguiu cativar!


Quando se trata de dar testemunho da impressão causada pela leitura de um qualquer livro, escuso-me quase sempre a utilizar palavras depreciativas. No mínimo considero-me devedor de respeito pelo labor de quem dedica horas e horas a escrever uma história ou a dar conta de experiências pessoais connosco partilháveis, para as desconsiderar com um comentário negativo.
Claro que cultivo assumidas exceções, não propriamente devidas à qualidade dos textos, mas à caracterização do autor: o nazismo de Céline leva-me a adiar para um dia de são nunca à tarde a leitura de «Viagem ao Fim da Noite», que vai acumulando pó numa prateleira da cave, ou a dar trato semelhante à dezena de romances, que comprei de Lobo Antunes e ao qual ganhei reiterada antipatia pelo carácter invejoso e mesquinho em relação a José Saramago.
Dizer mal faço-o assumidamente com muito poucos, com destaque particular para o orelhas da RTP. Mas, nesse caso em concreto, nem estamos a falar de um escritor na verdadeira aceção da palavra. Antes escrevinhador calculista, apostado em carpinteirar estórias à medida do que imagina serem as apetências do mercado. Trabalha para engordar a conta bancária, não propriamente para fazer algo que se pareça com Literatura.
Vem isto a propósito de «Os Loucos da Rua Mazur» de João Pinto Coelho, que me esforcei por concluir esta tarde depois de incomodada leitura. Não por estar menos bem escrito, nem por inexistir uma estrutura narrativa bem trabalhada. Se me ativer á qualidade literária posso considerar que, não deslumbrando, também não compromete. Mas, já o tema é mais polémico por aproveitar um triângulo amoroso entre dois miúdos, um deles cego, e uma rapariga, na Polónia do final dos anos 30, para nos dar conta dos funestos acontecimentos ali ocorridos, primeiro com a deportação de muitos homens para a União Soviética, quando os bolcheviques ocuparam a metade do território negociada com Ribbentrop, e depois com um bárbaro progrom, que quase extingue a população judaica da região.
Constate-se que, não sendo uma estória baseada em personagens reais, é inspirada em acontecimentos efetivamente ocorridos, quando o exército nazi já fizera recuar os soviéticos para lá das suas fronteiras. Mas Pinto Coelho aparenta um comprazimento semelhante ao de um escritor fascista italiano (depois arrependido), que impressionava os leitores com descrições particularmente «coloridas»  das crueldades então percecionadas. Quase há um latente sadismo na descrição dos assassinatos e torturas das vítimas do preconceito de raivosas matilhas cristãs.
Nunca sentindo empatia com a narrativa, depressa esquecerei o romance, que nada acrescenta às nossas letras por muito que tenha saído vencedor de um dos mais valiosos prémios literários do nosso panorama editorial.

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