segunda-feira, abril 09, 2018

(DIM) A evocação das primeiras obras de Marco Ferreri


No pós-25 de abril um dos filmes, que causou assinalável escândalo público foi «A Grande Farra», através do qual pudemos conhecer o universo criativo de um assumido cómico anarquista, Marco Ferreri.  Na estória de quatro amigos, que se juntavam para comerem alarvemente até morrerem decompunham-se os estereótipos de classe ou de género, numa metáfora com muito de buñueliano.
Estando cada vez mais esquecido nas memórias dos cinéfilos, a Cinemateca, em associação com a Festa do Cinema Italiano, apresentou três outros filmes dos anos sessenta, que dão conta do seu olhar crítico sobre muitos dos aspetos da vida burguesa, escalpelizados de forma ainda mais corrosiva na década seguinte.
«El Cochecito» (1960) foi o segundo filme rodado na Espanha franquista e mostrava um homem  tão obcecado em ter uma cadeira de rodas nem que para tal fosse obrigado a viver como um inválido.
«O Leito Conjugal» (1963) dá razão aos que veem nos seus filmes um certo feminismo, pois um quarentão casa com uma mulher bem mais jovem e vê-se relegado para um mero objeto caseiro, quando demonstrada a incapacidade de lhe satisfazer o voraz apetite sexual.
«Il Semme dell’Uomo» (1969) mostra um casal a discutir os prós e os contras da procriação num cenário apocalítico em que quase todos os seus semelhantes terão sido entretanto dizimados por um vírus avassalador.
Embora valham mais pela curiosidade do que pelo seu real interesse artístico, os três filmes de Ferreri ajudam a compreender as características dos seus títulos posteriores. 

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