sábado, abril 28, 2018

(DL) O amor aos livros na versão de Jorge Carrión


Nos últimos meses desapareceram algumas livrarias de referência em Lisboa e no Porto. Provavelmente noutras cidades também, porque a todo o lado chega o efeito devastador dos hipermercados com preços imbatíveis, oferecendo quase sempre coisas de somenos interesse destinadas a uma categoria de leitores apenas interessados em best sellers, em compêndios de autoajuda ou em xaropadas para corações piegas.
Existirão ainda livrarias, quando as minhas netas chegarem à idade adulta, quiçá mesmo à adolescência? Às vezes dá para pensar que só resistirão na memória dos que delas faziam lugar de eleição para encontrarem espaços de memória ou de esquecimento, de refúgio ou de encontro, consoante a sua necessidade. Para quem, entre os maiores prazeres da vida, apontariam decerto a compra e a leitura de livros.
O escritor espanhol Jorge Carrión denota, a esse respeito, um otimismo difícil de subscrever. Para ele tornar-se-ão obsoletas as grandes cadeias livreiras, porque havendo cada vez mais informação disponível na internet, será lógico comprarem-se progressivamente menos livros. Espaços de significativas dimensões para vender livros tornar-se-ão tão obsoletos quanto os grandes dinossauros após o abalo, que lhes causou a extinção. Mas, como alternativa, prevê o surgimento de uma nova geração de livreiros de bairro, uma espécie de DJ’s culturais, que se servirão dos seus pequenos espaços para gerarem dinâmicas criativas ao nível local.
Será assim? Não será? Numa altura em que o individualismo puro e duro está a dar lugar ao gosto por uma maior sociabilização envolvendo a partilha de ideias, sonhos e ansiedades, a previsão não deixa de comportar algum sentido.
Seja numa lógica melancólica, seja na predisposição de a encarar como uma espécie de fim de ciclo para dar lugar a outro não menos entusiasmante, Carrión tem «Livrarias» publicado entre nós, um belíssimo livro de viagens por todas as grandes metrópoles mundiais e outras cidades dos cinco continentes para delas dar conta da multiplicidade de espaços onde se podem comprar livros. Desde gigantescos edifícios, com quilómetros e quilómetros de prateleiras, até minúsculos apartamentos só acessíveis aos «iniciados». Entre nós a sua escolha foi para a «Lello» no Porto.
Há quem percorra cidades em busca de monumentos e paisagens, de espetáculos ou bares. Carrión confessa chegar a uma cidade desconhecida e sentir-se prioritariamente atraído pelos museus de arte contemporânea e pelas livrarias. É esse amor aos livros e à Literatura, que se sente no livro que foi considerado pelo «The Guardian» como uma das melhores propostas surgidas em Inglaterra em 2016.

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