quinta-feira, abril 05, 2018

(DL) As expetativas incumpridas das independências africanas


Ao chegar a uma capital africana pela primeira vez em 1957 o repórter polaco Ryszard Kapuscinski começou por reconhecer o quanto o mundo estava a mudar quando, no mesmo dia, se podia passar do frio agreste do Norte da Europa para o calor dos trópicos. Se no passado os corpos iam-se adaptando lentamente às mudanças, entrava-se num tempo em que a duração das viagens se abreviava, impondo contrastes bruscos tão estranhos, quanto bastas vezes incómodos.
Num país que acabava de ganhar a independência sob a liderança de Nkrumah, o jornalista europeu encontrou uma inocência, que o futuro extinguiria: vencido o colonialismo ainda se perspetivava a possibilidade de se construírem novas realidades políticas irrepreensivelmente democráticas, potenciadoras do rápido crescimento económico e cultural.
Kapuscinski  já relata os indícios das ulteriores prepotências - os ministros têm gabinetes nos pisos mais elevados dos prédios de Acra por serem os mais bafejados com as brisas inibidoras dos rigores das elevadas temperaturas sentidas nos imediatamente abaixo - mas ainda tudo se passa num ambiente assertivo em que os ministros podem ser contactados por qualquer dos seus governados e até os conhece pelos nomes.
Se a realidade pós-colonial assim tivesse prosseguido, a África ter-se-ia tornado num espaço utópico à medida dos ideais dos seus pais fundadores. O pior foi o que se seguiu...

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