segunda-feira, abril 30, 2018

(DIM) A Berlim de «As Asas do Desejo» já não existe


Passaram trinta anos desde que Wim Wenders pôs os seus anjos a deambularem por Berlim, um deles decidido a converter-se em humano, os outros apostados em mantê-lo no seu seio, sem deixarem de manter o discreto apoio a quem dele continuaria a precisar.
«Asas do Desejo» é um filme a que apetece voltar de vez em quando pelo que de poético nele subsiste, muito embora possa aproveitar a quem se sente entre dois mundos, com outras tantas opções de incompatível convergência.
Numa reportagem Wim Wenders volta aos locais onde filmou, faltavam dois anos para que o muro ruísse e a cidade dividida voltasse a ser uma só. E o que encontra do que então captou é quase nada: Berlim apagou os vestígios desse passado como se as três décadas de «comunismo» nunca houvessem existido. Porque sobram sempre nostálgicos dos valores ali proclamados e as frustrações do presente podem por eles serem aproveitadas, muito embora sejam mais os que as catalisam no retorno aos sonhos expansionistas do nazismo.
Se a Berlim do filme tinha uma alma própria, ela perdeu-se numa arquitetura impessoal, esmagadora de quem a habita ou, simplesmente, a visita.

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