Num dos episódios das «Histórias do Cinema», que o canal Arte anda a apresentar, Bertrand Tavernier revela algo assaz curioso: em 1973, quando um antigo ministro de De Gaulle publicou um ensaio com o título «Quando a China despertar, o Mundo Tremerá» o autor esclarecia que essa frase tinha sido visionariamente expressa por Napoleão Bonaparte no século XIX.
Logo os historiadores da época se debruçaram sobre toda a documentação relacionada com o imperador francês, sem conseguirem confirmar a informação apresentada por Alain Peyrefitte, nem em que circunstância ela fora proferida. Até que um deles, mais dado à cinefilia, encontrou a «fonte» do ensaísta: no filme «55 Dias em Pequim», realizado em 1963 por Nicholas Ray, a personagem interpretada por Elizabeth Sellars dirigia-se a David Niven, numa das cenas em que o pequeno número de europeus está prestes a ser cercado pelos chineses no exíguo espaço das feitorias, e lembrava-lhe precisamente essa frase.
Se é certo que John Ford já propusera noutra emblemática produção de Hollywood, que, entre a realidade e a lenda, prevalecerá sempre a segunda, não julgaríamos tão facilmente replicada essa regra num livro, com a chancela supostamente séria de um dos mais importantes políticos franceses de há meio século.
As fake news existem desde sempre, apenas ganhando maior difusão nesta era das redes sociais.
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