quarta-feira, abril 25, 2018

(DL) «Barragem contra o Pacífico», o romance que revelou Marguerite Duras


Chamava-se Marie Donnadieu e constituiu um dos mais ilustrativos exemplos de quem faz apostas erradas e nelas teima até quase não se tornar possível evitar a catástrofe.
Professora colocada na Indochina, instalou-se com a família em Saigão, onde o marido tomou posse do cargo de diretor do liceu local. Estava-se em 1921, mas enviuvou três anos depois, ou não se revelasse o clima da região sensível aos europeus. Vendo-se com três filhos a cargo, Marie sentiu crescer em si uma desmedida ambição. Daí que investisse todas as economias numa quinta com  duzentos hectares perto de Prey-Nop, no atual Camboja, onde contava enriquecer com a plantação de arroz.
Em breve os sonhos viraram pesadelo: as monções inundavam-lhe toda a propriedade e a água salgada destruía-lhe as culturas.  Consumado o desastre no primeiro ano, Marie e os filhos tentarão criar frágeis barragens que, nos anos seguintes, nunca conseguirão impedir a sua repetição. O desespero instala-se e a família vive tempos difíceis com todas as circunstâncias a parecerem conspirar em seu desfavor.
Foi com essa história pessoal, que Marguerite Duras se tornou famosa, ao verte-la em romance logo após a Segunda Guerra Mundial. Publicado em 1950, «Barragem contra o Pacífico» criaria tal impacto que a crítica e os leitores consensualizaram a ideia de estarem perante uma das escritoras mais relevantes das décadas seguintes.
Vertido para cinema por duas vezes, o romance já continha a vertente sensual, que Marguerite exploraria depois em romances igualmente situados naquela região do mundo, tendo ela própria como protagonista («O Amante») ou essa personagem fascinante que foi Anne Marie Stretter enquanto esposa do vice-cônsul.
A última vez que li «A Barragem contra o Pacífico» foi há já uns bons anos, quando as longas viagens por mar me possibilitavam disponibilidades como leitor, que dificilmente voltei a reencontrar em terra firme. No entanto os romances da autora continuam na biblioteca pessoal, sem passarem pelo processo de doação, que quase todos os demais livros vão paulatinamente conhecendo, porque ainda os conto revisitar mais uma vez. É que se a estória em si não me trará novidades, pretendo testar como funciona essa escrita anos depois de me ter suscitado reiterado entusiasmo.

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