sábado, abril 14, 2018

(DL)Um homem que todos à volta parecem ter esquecido


Exemplo típico de escritora, que passou grande parte da vida noutras vocações (professora universitária e arqueóloga no seu caso específico!) e decide experimentar o romance depois de dobrado o cabo dos sessenta anos, a sueca Mia Ajvide está a conhecer algum sucesso editorial em França com a tradução do seu primeiro título: «O Homem que Caiu no Esquecimento».
A estória tem o seu quê de kafkiano, pois envolve um homem banal subitamente projetado para uma situação deveras excecional: o quotidiano de guia turístico sem contrato fixo, fica  virado do avesso quando chega a casa e a mulher o não reconhece. Pelo contrário até sente terror por ele, e expulsa-o dando-lhe, porém, a oportunidade de ver outro homem sentado à mesa das refeições. O que lhe percebe no olhar, é que Aino esqueceu-o completamente como se todos os anos de feliz conjugalidade se tivessem apagado num ápice.
Não tarda, igualmente, a compreender que a reação da esposa não se cingiu a ela: a própria mãe dele olha-o com medo e recusa-se a abrir-lhe a porta. E todos quantos com ele se cruzam parecem esquecê-lo tão só lhes sai do campo visual.
Se existe alguma consolação ela residirá no facto de, em breve, se encontrar com outras vítimas da mesma situação insólita, que os leva a congregarem-se numa “comunidade dos esquecidos”, cujo fito será o de conseguirem restabelecer a interação com quem ela foi posta em causa. Reconquistar o que se perdeu torna-se-lhes o objetivo primordial.
Mia Ajvide criou um thriller psicológico, que doseia componentes de fantástico e de investigação histórica para complexificar um drama pessoal. O absurdo e o terror cotejam-se para influenciarem uma realidade incómoda, que quase todos preferem esquecer...

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