O compositor chegou ao campo pela manhã cedo e logo múltiplas emoções o inebriam. É essa a leitura que fazemos aos primeiros acordes da orquestra no primeiro andamento da Sinfonia nº 6, em fá maior, opus 68, que Ludwig van Beethoven criou em 1808, e comummente conhecida como a «Pastoral». É um “Allegro ma non troppo”, que ele concebeu na forma de sonata.
Tendo então trinta e oito anos, estava a viver o período mais fulgurante da sua criatividade porque, ao mesmo tempo que trabalhava nesta obra, também compunha a celebérrima 5ª Sinfonia.
Para trás ficara o primeiro grande período criativo, concluído em 1802, quando começou a sentir os efeitos da progressiva surdez, que o conduziria à incapacidade total em ouvir os efeitos da sua criação. O desespero, que então sentira, levara-o a ponderar na hipótese de suicídio, que viria a pôr completamente de lado numa carta, que ficou conhecida como o «Testamento de Heiligenstadt», onde se confessou disposto a enfrentar o que o futuro lhe viesse a reservar.
Quando passamos para o segundo andamento desta «Pastoral» - um “Andante molto mosso» - é como se víssemos o compositor à beira de um lago tranquilo a ouvir o vozear dos pássaros. E esta sensação da música transmitir-nos a possibilidade de transposição para imagens fáceis de imaginar, revela-se particularmente óbvia nesta obra, que é das mais programáticas na obra do compositor, porque pretendia associá-la ao que a Natureza lhe sugeria.
Mas, pessoalmente - e isso é decerto uma questão muito pessoal - continuo a ter como trecho musical da minha predileção o segundo andamento da Sétima Sinfonia, esse “Allegretto”, que sempre “li” como o incentivo a uma luta, que mesmo difícil de levar à vitória, a alcançará à custa de muito esforço e contrariedades de permeio.
Chegamos, entretanto, ao terceiro andamento, um “Allegro”, que reflete o ambiente das festas populares e das suas danças.
Mas, porque estamos em pleno romantismo e as tempestades constituem matéria quase obrigatória da exaltação sentimental, vemos o eclodir da farta tormenta, progressivamente a desanuviar-se até ao “Allegretto” com que se conclui a Sinfonia que pretende manifestar um hino de gratidão à Natureza.
Vem este texto a propósito de ter sido esta a obra com que se concluiu o concerto desta noite na Gulbenkian, cuja orquestra foi dirigida pelo maestro Karl-Heinz Steffens.
Para quem perdeu a oportunidade pode voltar a tentá-la amanhã, pelas 19 horas, contando ainda no programa com o “Idílio” de «Siegfried» de Wagner e com quatro lieder de Mahler interpretados pelo barítono Peter Mattei.
Em alternativa pode sempre apreciar a obra de Beethoven no clip do youtube aqui anexo em que temos a Orquestra Sinfónica de Boston dirigida pelo sempre fabuloso Leonard Bernstein.
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