Uma das escolas de cinema mais bem apetrechadas e donde têm emergido filmes de prodigiosa imaginação é a da Academia de Cinema de Baden Würtemberg, localizada nas proximidades de Estugarda. Da sua excelente produção tive o privilégio de ver agora três filmes, que merecem aqui referência.
Dois deles são de Jochen Kuhn que, além de professor nessa escola, é artista de múltiplos talentos, que concilia nos seus projetos pessoais: pintor, compositor, argumentista, operador de câmara e fotógrafo. Na solidão do seu atelier, Kuhn vai criando laboriosamente um tipo de filmes, que possuem uma inconfundível marca identitária.
«Domingo 3» foi realizado em 2012 e apresenta-nos um narrador que, em voz off, conta o seu primeiro encontro com a desconhecida interlocutora conhecida num site para corações carentes. É assim que, para sua surpresa, dá com a chanceler Angela Merkel.
Entre os dois candidatos a uma relação íntima nunca se chega a estabelecer a cumplicidade que ela desejaria concretizar carnalmente, porque o aprendiz de galanteador nunca conseguirá dissocia-la da condição de Dama de Ferro.
Na sua explicação para a razão de ser do projeto, Kuhn confessa a curiosidade a respeito da gestão sentimental dos políticos, constantemente sujeitos a um escrutínio de moralidade, que pode destruir reputações, como sucedeu com Bill Clinton ou Strauss-Kahn.
Utilizando esse recurso a imagens paradas com pinturas, que se vão substituindo no ecrã, e nas quais a mão do autor assegura alterações de forma a parecerem projetos inacabados, temos «Sempre Fatigado» (2014), uma curta de seis minutos sobre um político chegado ao topo e acometido de indisfarçável cansaço nas alturas mais comprometedoras (quando discursa no Reichtag ou noutras participações públicas), e desesperado por se saber em vias de ser marginalizado num mundo tão competitivo.
Mas o filme mais interessante dos três é «Assunto a Resolver» (2014), uma curta com 20 minutos, assinado por Dustin Loose.
Jakob Adler tem 32 anos e vai conhecer pela primeira vez o pai, internado há um quarto de século num asilo psiquiátrico. E, porque tem um dilema dispõe-se a perguntar ao diretor clínico o que fazer: se contar-lhe, que a mulher sempre o amara durante todos esses longos anos em que estivera na prisão e no hospital, ou se deveria revelar o segredo que, entretanto descobrira. Na realidade Jakob não era filho dele, mas do tio, que o paciente assassinara a quem ao descobrir a relação adultera estabelecida com a cunhada. Dar ao paciente o consolo de um amor que perdurara ao longo daqueles trinta e dois anos ou dar-lhe a verdade nua e crua? Consolá-lo pelo sofrimento vivido nessas três décadas ou castiga-lo por lhe ter morto o verdadeiro pai?
Para surpresa de Jakob uma enfermeira esclarece que esse interlocutor era, na realidade, aquele a quem viera procurar e que, agora, atingido por tão grande sofrimento perante a revelação, decide suicidar-se...
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